domingo, 8 de janeiro de 2012

2761) Prezado Eu (8.1.2012)



“Prezado Eu: Estou escrevendo do ano de 2010, quando atingi a idade totalmente ridícula de 62 anos, e venho lhe dar um pequeno conselho, em apenas cinco palavras: fique longe das drogas recreativas. Você tem muito talento e vai fazer muita gente feliz com suas histórias, mas (é triste, mas é verdade) você também é um viciado pronto para entrar em ação. Se você não der atenção a esta carta e mudar seu futuro, pelo menos dez anos da sua vida, entre os 30 e os 40 anos, vão ser uma espécie de eclipse tenebroso em que você vai decepcionar uma porção de gente e deixar de aproveitar seu próprio sucesso. Vai também chegar bem perto da morte, em várias ocasiões. Faça um favor a você mesmo e desfrute de um mundo mais luminoso e mais produtivo. Lembre que, assim como o amor, a resistência à tentação torna o nosso coração mais forte. Fique limpo. Tudo de bom, Stephen King”.

Esta é uma das cartas que The Guardian encomendou a pessoas como Gene Hackman, Alice Cooper, James Belushi, Gillian Anderson, etc., com o mote: “Escreva uma carta para você mesmo aos 16 anos, dando-lhe o recado que achar mais importante (http://bit.ly/p0bFox)”. Todos nós sabemos que é impossível mudar o passado, e que se pudéssemos mudar o que fizemos aos 16 anos não chegaríamos ao ponto de, adultos, poder voltar no tempo para fazer essa mudança. É a viagem impossível, um paradoxo temporal que tem a sedução hipnótica das ilusões de ótica, das pinturas “trompe l’oeil” e das gravuras de Escher em que duas imagens incompatíveis parecem coexistir.

Stephen King é um dos escritores mais bem sucedidos, comercialmente, mas sempre teve problemas com a bebida (e outras drogas). Já vi uma entrevista em que ele declarava guardar apenas uma vaga lembrança de ter escrito o romance Cujo (1981), porque nessa época não fazia outra coisa senão se embebedar. Sua obra retoma de maneira obsessiva e mesmo cansativo esse tema: um escritor bêbado em conflito com a família (talvez O Iluminado seja o melhor livro dele sobre esse tema).

Entre os outros convidados, Hugh Jackman (“Wolverine”) aconselha seu Eu jovem a usar sempre protetor solar, e a manter uma lista das 5 coisas que gosta de fazer e das 5 coisas que sabe fazer bem, e avisa: “Um dia tudo isto vai se encaixar, e você vai descobrir seu caminho”. Esses conselhos fictícios são uma breve dramatização do balanço retrospectivo que todos nós fazemos de vez em quando para saber o que funcionou e o que não deu certo em nossas vidas. O “Eu” com 16 anos cometerá os mesmos erros e fará as mesmas descobertas; mas somente nós somos capazes de, agora, distinguir o que foi descoberta e o que foi erro.

4 comentários:

  1. Serei o primeiro a pedir: Braulio, bem que você poderia fazer uma carta para o seu eu aos 16 anos, não? :-)

    Abraço.

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  2. Não sei o que escreveria. Talvez me aconselharia a não cometer um único erro, o qual me faz sentir certa raiva. No mais, diria a mim para fazer tudo como foi feito. Se não, eu não seria eu.

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  3. Ahh me daria muitos conselhos!! Talvez o mais importante e que faria grande diferença hj, aos 36, seria: Siga seu caminho e não desperdice tanta energia com o medo de ser julgada!!

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  4. Se escrevesse uma carta para mim quando tinha a idade de 16 anos me daria os conselhos que Proust dá através de sua obra: em primeiro lugar não aposte numa vida mundana; em segundo, não aposte no amor. Parabéns pelo blog, uma feliz descoberta. Um abraço...

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