Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 31 de dezembro de 2011
2753) Criação aleatória (30.12.2011)
Na revista Edge (http://bit.ly/vmEGf8), o biólogo Mark Pagel estuda o modo como o pensamento criativo se dissemina no interior das sociedades, e o compara com a evolução biológica.
Esta se dá através de pequenas mutações aleatórias em nossos genes, ao serem passados dos pais para os filhos. Muitas vezes não dão certo, mas às vezes dão, e “uma das coisas mais notáveis da natureza é que a seleção natural, atuando sobre essa variação genética gerada sem controle, é capaz de achar a melhor solução entre muitas, e sucessivamente incorporar essas soluções umas às outras. E, através desse processo extraordinariamente simples e não controlado por ninguém, criar coisas de complexidade inimaginável”.
Pagel compara isto ao que ele chama de “aprendizado social” (“social learning”), o processo através do qual as novas idéias são avaliadas pelo grupo, umas são descartadas, outras aceitas:
“Qualquer processo evolutivo dessa natureza precisa ter tanto um mecanismo de escolha, uma seleção natural, quanto o que podemos chamar de mecanismo generativo, um mecanismo capaz de criar variedade”.
Muitíssimas vezes o que o pensamento criador faz durante mais tempo é andar às cegas, tatear, dar saltos no escuro, escolher um caminho em vez de outro, sem saber exatamente por que este e não aquele. Tentar combinações ao acaso, produzir reviravoltas sem razão aparente, inserir elementos que não sabe exatamente o que são... tudo isto faz parte da atividade criadora na arte, na ciência, na literatura, etc.
Cria-se (mecanismo generativo) sem muita preocupação com a lógica ou o planejamento; e depois passa-se um pente fino no que foi criado (mecanismo de escolha).
Pagel enfatiza a importância do fator randômico, ou aleatório, em “qualquer processo evolutivo que consiste na exploração de um espaço desconhecido, tal como se dá com os genes, ou com os neurônios explorando o espaço desconhecido em nosso cérebro e tentando criar conexões, ou com as nossas mentes tentando produzir idéias novas e explorando o espaço de alternativas que nos conduz para o que chamamos de criatividade”.
Meu conselho aos jovens artistas: produzam intuitivamente, levados pelo instinto, sem planejar. O planejamento nos traz de volta à repetição. Quando pensamos racionalmente, em geral, estamos repetindo modos de pensar que aprendemos, que já são consagrados, coletivos.
A criação (artística, científica, etc.) precisa lidar com hipóteses absurdas, argumentos sem provas, descobertas inexplicáveis, elementos aparentemente sem sentido. Somente depois devemos ligar o “mecanismo de escolha” para achar o equilíbrio entre o aprendido e o recém-descoberto.
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