quarta-feira, 30 de novembro de 2011

2727) Macondo - The Game (30.11.2011)




(xilogravura: Stephen Alcorn)

Este lançamento da Carybernetics para 2035 traz um oxigênio novo para o mundo dos “computer games”, que andava meio saturado de temas como zumbis por nanotecnologia, espada-e-feitiçaria neo-islâmica e impérios submarinos.

A abertura do game nos traz em câmara subjetiva descrevendo o voo de uma folha de árvore através de uma floresta tropical, que de súbito se abre num barranco, mostrando um povoado de casas de barro e solares rústicos, enquanto a voz do autor nos diz:

“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía recordaria o dia remoto em sua infância quando seu pai o levou para conhecer o gelo”. 

 A palavra final fecha o movimento da câmara sobre um cubo maciço, cercado por ciganos e coberto de serragem, onde a câmara penetra exibindo o intrincado menu.

Toda a árvore genealógica dos Buendía está ali, entrelaçada à história da Colômbia e às outras obras de Márquez (é brilhante a conexão com o universo do Outono do Patriarca).

Os amantes de violência e ação têm farto material para batalhas através das guerras quixotescas perdidas pelo Coronel Aureliano (note-se que mesmo quando o jogador consegue ganhar essas batalhas, a situação política o força a travá-las de novo, interminavelmente).

Idem quanto ao duelo entre José Arcádio e Prudencio Aguilar, que tem de ser travado em sonho, ou pesadelo, por todos os seus descendentes. Há também pequenos momentos de descontração, como o minijogo de forjar e derreter peixinhos de ouro, ou a possibilidade de produzir microtatuagens na pele de José Arcadio.

Há muita sutileza na recriação de Remédios a Bela, cuja imagem só é vista por microssegundos (alguns jogadores conseguiram capturar frames do seu rosto, mas as versões falsificadas são muito mais numerosas que as legítimas). Os numerosos Arcádios e Aurelianos são recriados a partir de um mesmo avatar, com adição de pequenos detalhes que os diferenciam. (Uma das opções do jogo é ver toda a história através da matriarca Úrsula: nesta versão, todos os Arcádios e Aurelianos são totalmente diferentes entre si.)

Para os que apreciam mais o mistério do que a aventura, a decifração dos manuscritos do cigano Melquíades pode servir como um fio condutor para o desenrolar de toda a história, embora os criadores do jogo tenham tomado algumas liberdades, incluindo nele praticamente toda a obra restante de Márquez.

Em resumo: uma prodigiosa reconstituição gráfica da floresta, dos bananais, dos pântanos caribenhos; e uma proliferação de subnarrativas que justificam o slogan dos produtores, que promete “cem anos de entretenimento” a quem quiser zerar o jogo. Cotação: 5 estrelas.









5 comentários:

  1. hahaha, Muito bom Braulio. pena que só vai sair em 2035. Vamos ver se não vaza algo ao menos até 2030 pq 24 anos é muita coisa!

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  2. Salve,Grande Bráulio!
    Cheguei até o seu blog através de tortuosos caminhos...mas está valendo muito! Parabéns!
    Desculpe a ignorância deste macaco aqui, mas você já me surpreendeu com a notícia sobre o Grande Sertão: The Game para 2034(?...) e agora este inspirado em Macondo para 2035(?...).A pergunta é: como você teve acesso e como podemos ter também? O que é esta versão beta?
    Forte abraço.
    Cícero Teodoro
    De São Paulo
    E-MAIL: cibond@pop.com.br

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  3. Cícero, a data futurista é justamente para prevenir o leitor de que se trata de uma ficção. O objetivo destes textos é mostrar que nem todo game precisa ser sobre soldados mercenários fuzilando zumbis, ou coisa parecida. Pode existir game para intelectuais, por que não?

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  4. O Xerxenesky escreveu algo sobre o game Skyrim e o escritor suíço Robert Walser.:

    http://blogdoims.uol.com.br/ims/simulador-de-robert-walser-%E2%80%93-por-antonio-xerxenesky/

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