Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 13 de novembro de 2011
2713) Riscando livros (13.11.2011)
(Tom Philips, A Humument, pág. 312)
Diz-se que riscar um livro é uma mistura de falta de educação e desprezo. Não acho. Um livro é um mero suporte de um texto.
Algumas pessoas o têm como uma distração descartável: o sujeito lê, põe o livro de volta na estante e, daí a alguns anos, manda vender no sebo.
Para outros, porém, o livro é um objeto de trabalho. Ele não pega o livro para uma leitura casual e sem compromisso, e sim para um enfrentamento intelectual. Pega no livro (inclusive um romance, uma obra literária qualquer) para estudar. Nesses casos, meu conselho é que meta a caneta pra cima, se achar que com isso estuda melhor.
A caneta serve, como diz Fausto Fawcett, como um contador Geiger que vai assinalando a radioatividade literária dos melhores trechos.
Há pessoas que têm memória visual, e recordam melhor um livro quando visualizam trechos sublinhados, parágrafos destacados com colchetes, anotações feitas nas margens. Minha memória é assim; quando penso naqueles livros que consulto com frequência, é a imagem da página que me vem à memória, com todos os riscos e todas as notas que fiz com meu próprio punho. Se lembro de uma frase que me é muito familiar, sei até se está a página da esquerda ou na da direita; lembro se fica no alto ou na parte baixa da página.
Se você não lembra as coisas assim, não precisa riscar o livro, mas, se riscá-lo desse modo o ajuda a marcar melhor as coisas na memória, meu conselho é que o faça.
Quando releio um livro, releio primeiro as partes sublinhadas, porque sei que ali estão os trechos que nas leituras anteriores achei mais importantes. Não que eu concorde, necessariamente, com o que está dito; mas porque aquilo concentra melhor as idéias do autor, sejam elas o que forem.
Alguns leitores desenvolvem códigos próprios. Diz-se que Guimarães Rosa criou o código “m%” (“meu, cem por cento”) para indicar trechos com os quais se identificava especialmente.
Costumo fazer conexões entre trechos do livro, quando vejo a mesma idéia repetida em pontos diferentes. Se vejo na pág. 150 algo que tem tudo a ver com um trecho importante da pág. 82, coloco: “ver pág. 82” ao lado, e voltando à primeira coloco “ver pág. 150”, incluindo aí quantas referências houver. Daqui a 20 anos, quando precisar consultar o livro, não preciso ficar procurando aqueles trechos durante uma tarde inteira.
Também aconselho criar um índice remissivo no final, registrando os assuntos importantes e as páginas em que aparecem. Muitos livros trazem esses índices, mas nem todos registram os assuntos que interessam à gente. Rabisco um livro para poupar tempo a um leitor de daqui a dez anos, que por coincidência serei eu mesmo.
—:> Concordo com vc, Braulio. Eu tbm "risco" os livros que leio, e tenho verdadeiro apreço por eles. Livro sem uma 'marquinha' que seja nas margens, nas entrelinhas, sem um sublinhadinho é como mulher mal comida, cara, vai malhar vc pelo resto da vida.
ResponderExcluirSaudações heréticas diretamente de Jacacity,
Ruy.
A ideia de "ler como enfrentamento intelectual" é bem interessante. Parece que o leitor se depara com um livro de armadura sobre um cavalo branco e uma lança, e você está do outro lado, com uma lança em mãos pronto a rabiscá-lo todo. rsrs
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