Uma crítica que se faz aos filmes de vanguarda é que são filmes que só interessam a quem faz cinema.
Filmes onde existe pouca história, pouca narrativa, pouco trabalho de ator, e a ênfase é toda na linguagem, ou melhor, na meta-linguagem, no exibicionismo do diretor através de suas imagens, seus cortes, seus movimentos de câmara. Até suas indisciplinas narrativas acabam sendo saudadas como inovação e assimiladas pelos diretores mais jovens.
Isso ocorre em todas as artes, é claro. Quanto mais inventiva a linguagem de um autor, mais os outros autores (ou pretendentes a autor, ou críticos de gosto refinado) se apaixonam por ela.
Um romancista como Proust, um pintor como Picasso, um músico como Stravinsky, todos eles são gurmês cozinhando para gurmês. Em inglês existe até uma construção frequente – chama-se a Fulano “a poet’s poet”, ou “a filmmaker’s filmmaker”, para dizer que é um poeta feito à medida para ser apreciado por outros poetas, ou um cineasta para ser visto por outros cineastas.
Eu diria que o cinema industrial também é assim, não é só o cinema de vanguarda. Todo espetáculo, toda produção industrial, tudo que envolva grandes recursos, grandes equipes, grandes problemas técnicos e grandes responsabilidades, tem um fascínio próprio, que é o desafio de fazer bem feito.
Isso não tem nada a ver com Arte; tem a ver com profissionalismo, com artesanato (vá lá esse termo tão polêmico), com desempenho técnico. Isso está num comercial de TV, num desfile de modas, num treino de Fórmula 1.
Há uma tarefa complexa e delicada a ser executada, e um erro pode custar muito caro. O desafio é executá-la com perfeição. Fazer isso com pouco dinheiro é difícil, com muito dinheiro é difícil também.
Isto explica por que motivo o Oscar, esse boneco tão superestimado, fascina tanto as pessoas que o criaram e que garantem sua fama, ou seja, os membros da famosa Academia de Hollywood.
O Oscar não tem nada, rigorosamente nada a ver com a Arte cinematográfica como eu a entendo. É um prêmio técnico, concedido e votado por técnicos, e que premia a competência técnica. É um prêmio corporativo no bom sentido, porque as pessoas que o votam sabem o quanto é difícil criar um efeito especial, interpretar um personagem, inventar um cenário, pesquisar um figurino, bolar uma história original. A Arte é importante; mas isto que estou descrevendo também é, por que não?
O Oscar é um prêmio que ignora o lado transcendental da Arte e premia os “artesãos competentes”, que trabalharam duro e fizeram um filme dar certo.
Premia o envolvimento emocional das pessoas, suas noites em claro, seus dias de sangue, suor e lágrimas, suas ausências da família. Premia seus anos de estudo e treinamento, sua paciência inesgotável para trabalhar em equipe correndo contra o relógio.
As longas listas de nomes nos agradecimentos explicam o que é o Oscar. Não é um prêmio para os artistas, é um prêmio para os profissionais, e é só neste aspecto que tem valor.
É isso.
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