Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
2481) "A labareda que lambeu tudo” (16.2.2011)
(Caetano Veloso e Geneton Moraes Neto, em plena Era Paleozóica)
Este documentário idealizado e escrito por Geneton Moraes Neto (co-dirigido com Jorge Mansur) foi exibido pelo Canal Brasil, e talvez vire filme. Geneton é um dos melhores entrevistadores da TV Globo, embora a maior parte do seu tempo seja dedicada à edição-em-chefe de programas variados. Mas é um ex-cineclubista, um ex-superoitista, e ele próprio se questiona na primeira parte: “Será que não desperdicei com jornalismo um tempo que poderia ter dedicado ao cinema?”.
O filme (ou programa, como queiram chamá-lo) é uma tentativa de acertar essas contas, e o faz com um tiro certo, misturando política, Tropicalismo e cinema novo. Geneton entrevista Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé e Jorge Mautner, sobre o tempo em que viveram no exílio; mas o cinema entra por vias transversas, porque Glauber Rocha é uma presença constante nas lembranças de todos.
A primeira parte tem também Paulo César Peréio fazendo uma espécie de “alter ego” do diretor, recitando um texto em que ele explica a necessidade do filme e seu modo de concepção. As entrevistas se concentram no período em que os quatro músicos viveram no exílio.
A identificação de Geneton com o Tropicalismo (e seu relacionamento de longo tempo com alguns dos entrevistados) o leva a conseguir tirar um novo leite de uma pedra já tão ordenhada. É divertido ouvir Caetano contar histórias de Glauber: como ele gostava de andar nu dentro de casa a qualquer hora do dia, ou de como conseguiu que Jean-Luc Godard escrevesse uma carta elogiando Caetano (sem conhecê-lo) para tentar livrá-lo da prisão.
Gil descreve com detalhe o processo de criação da música “Cálice”, e Macalé conta história impagáveis, como a de quando, sob efeito do LSD, foi ver o Museu de Madame Tussaud e se apaixonou pela Branca de Neve, tendo que ser retirado aos prantos pelos amigos.
É de Macalé a frase que dá subtítulo ao filme (cujo título principal é Canções do Exílio), e que serve como metáfora da ditadura militar que “passou o rodo” na cultura brasileira. Na verdade, ele se refere ao calor carioca, que eles sentiram no momento em que, de volta ao Rio, a porta do avião se abriu e o calor entrou, dando aquela sensação de “finalmente cheguei em casa”.
Geneton se pergunta (com a voz de Peréio) durante o filme: “Por que não fazer um filme com as pessoas simplesmente falando? Por que tudo tem que ser tão cortado, tão curto? Por que tem que se partir do princípío de que as pessoas não estão interessadas em coisa nenhuma?”.
Ver gente falando sobre assuntos que nos interessam ainda é um dos grandes trunfos da TV (e do cinema; e da Internet com seu YouTube e tudo o mais). É curioso ver essa discussão numa época de Big Brother, um programa que enclausura pessoas numa casa e precisa inventar gincanas imbecilizadas ou festinhas debilóides para dar-lhes algum assunto sobre que conversar. Parece haver um consenso de que é sempre interessante ver pessoas conversando. A diferença é apenas de repertório.
Rapaz, essa foto que tu colocou aí deve ser da época do daguerrótipo! rs
ResponderExcluirGeneton mudou muito...