“Nascido do Quênia, criado no que é hoje o Paquistão, e tendo morado no Reino Unido durante a II Guerra Mundial, Desani estabeleceu-se por fim na Índia e ali criou um dos romances mais originais retratando o declínio do Império britânico. Seu livro é uma reconstrução artificial e amalucada dos modos de falar o inglês na Ásia, e acompanha o personagem título – meio malaio, meio inglês, cheio de exclamações – enquanto este consulta sete sábios em sete cidades, tentando descobrir não apenas o significado da vida, como o dessa história que está sendo contada”.
O livro apareceu em 1948 e recebeu elogios de muitos críticos, entre eles T. S. Eliot. Depois de cair na obscuridade foi recuperado nos anos 1970 com uma reedição prefaciada por Anthony Burgess. Seguiu-se outra década de esquecimento, até que Salman Rushdie, ao receber em 1981 o Booker Prize por Midnight Children declarou que seu romance era influenciado pela obra de Desani.
Como se vê, não é uma obra das mais fáceis, e suas eventuais ressurreições são provocadas pelos elogios de autores cujos experimentos linguísticos e narrativos deixam bem claro qual o tipo de romance eles apreciam.
Segundo uma resenha anônima no saite DooYou, Desani nasceu em 1909 no Quênia, de família indiana. Depois da I Guerra Mundial, viveu por algum tempo em Burma e na Índia, onde estudou sânscrito, filosofia, budismo e ocultismo. Depois de viver na Inglaterra, emigrou pra os EUA em 1970 para ensinar da Universidade de Boston, e depois na Universidade do Texas, em Austin, onde faleceu em 2000. Sua única outra obra publicada é Hali & Collected Stories.
O resenhador comenta que o livro de Desani pode agradar aos leitores que gostam de Laurence Sterne, James Joyce, Anthony Burgess ou Salman Rushdie, e que um longo trecho dele foi incluído na antologia de literatura indiana Mirrorwork, organizada por Rushdie e Elizabeth West.
Na sua introdução ao romance, Burgess diz que os “metecos” (“meteques”) são aqueles escritores com um background linguístico, racial ou político não-inglês. Vivendo na periferia de uma língua e de uma cultura que os ignora, eles usam a língua inglesa com sem-cerimônia e um certo desrespeito, produzindo efeitos que jamais teriam ocorrido a um nativo do idioma.
Podemos pensar em Nabokov como um exemplo erudito e sofisticado desse grupo de autores para quem o inglês é um parque-de-diversões, e não uma tradição clássica a ser respeitada. Assim como Oswald de Andrade sonhava para a língua brasileira “a contribuição milionária de todos os erros”, Desani parece conseguir, com seu inglês asiático multicultural, uma língua “gloriosamente impura, como a de Shakespeare, Joyce e Kipling”, segundo Burgess.
O próprio Borges escrevendo em espanhol...
ResponderExcluirPela brevíssima biografia do autor, dá para perceber como a própria vida dele daria um belo livro, não? Esse livro mostra como já passou da hora de eu aprender a ler em inglês.
ResponderExcluirPrefácio de Burgess, hein? Deve ser uma belezura mesmo.
Com uma ressalva, Lucas: para começar a ler em inglês é melhor pegar autores de estilo mais límpido e direto. Isaac Asimov, por exemplo. Para saborear alguém como Burgess ou esse Desani, é melhor já ter um certo domínio da leitura. Os primeiros livros que li totalmente em inglês foram "A Máquina do Tempo" de H G Wells e "As Crônicas Marcianas" de Ray Bradbury, só entendi metade de cada um, mas fui em frente.
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