Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
2243) Os bombeiros do futuro (16.5.2010)
As chuvas que mataram muita gente no Estado do Rio deixaram algumas imagens poderosas na imprensa, como sempre. Uma que me comoveu foi uma que saiu enorme da capa do “Globo”, uma foto de André Teixeira mostrando o abraço entre dois homens diante do corpo de um garoto, no Morro dos Prazeres, no Rio. O garoto era filho de um deles, ficou soterrado e manteve-se vivo durante horas, respondendo aos chamados. O outro homem era o bombeiro que trabalhou um dia inteiro para retirar o garoto, mas quando conseguiu fazê-lo o menino já estava morto. Pai e bombeiro, dois mulatos que poderiam ser dois irmãos, choram juntos, abraçados e sujos de lama.
Essa foto pra mim faz parelha com a foto famosa tirada nos EUA diante do prédio destruído por uma bomba terrorista em Oklahoma: um bombeiro de roupa amarela tendo nos braços uma criança morta pela explosão. Mostra o sofrimento de um cara que não conseguiu salvar uma vítima indefesa. Acho que desde o atentado ao World Trade Center no 11 de setembro que os bombeiros deixaram de ser vistos por muita gente como alguém que simplesmente apaga incêndio, os “bravos soldados do fogo”, segundo o clichê das redações atarefadas. O bombeiro executa tarefas de salvamento que vão desde buscar um gato que não consegue descer da árvore até arrancar gente viva de baixo de um prédio que desmoronou.
O bombeiro é o soldado que não mata, o soldado que se limita a salvar quem corre o risco de morrer. A existência de exércitos dá uma medida do rudimentarismo de nosso mundo, um mundo em que ainda é necessário recrutar rapazes e gastar fortunas para torná-los fortes, resistentes, bem preparados, com a finalidade de matar outros rapazes de outro país, tão fortes e bem preparados quanto eles. Vemos às vezes partes da população, ou da imprensa, vendo o despreparo da polícia para enfrentar o crime, pedir o Exército no policiamento das ruas. E nessas horas sempre aparece uma autoridade do Exército para dizer, com frieza mas com bom senso; “Não podemos fazer isso, porque nossos homens não são preparados para tomar conta de ruas, são preparados para matar”.
Dia virá em que não haverá mais soldados, e todos nós seremos bombeiros? Se isto acontecer será um sinal de que a Humanidade se civilizou. Soldados serão sempre necessários, não para nos defender de outros soldados, mas para nos defender de inundações, desmoronamentos, incêndios, tsunamis, terremotos, acidentes de todo tipo. Desastres e catástrofes nunca deixarão de haver – e a julgar pelo que temos feito ao planeta nos dois últimos séculos, vão se tornar cada vez mais frequentes, mais mortais, mais imprevisíveis. Vai chegar um momento em que precisaremos transformar todas as Forças Armadas do mundo em bombeiros. A Terceira Guerra Mundial, ironicamente, será travada entre a Humanidade e a Natureza. E para isso precisamos dos verdadeiros Soldados do Futuro, aqueles que são treinados não para matar, mas para salvar vidas.
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