segunda-feira, 5 de julho de 2010

2229) “As melhores coisas do mundo”(30.4.2010)

Este filme de Laís Bodanzky (em cartaz na Capital) é um dos filmes brasileiros mais simpáticos dos últimos tempos, um filme sobre adolescentes que fala sem preconceitos sobre sexo, drogas e rock-and-roll. Fala sobre homossexualismo, sobre pais que se separam deixando os filhos apavorados; fala sobre garotos e garotas que experimentam drogas, e que se envolvem em fofocas e maledicências via celular. E fala de uma maneira equilibrada, descontraída, sem lições de moral. Me digam qual é o jovem que dá ouvidos a um adulto que tenta dar-lhe lições de moral. Ele pode prestar atenção e dizer “sim senhor” por uma questão de afeto e respeito. Mas na hora de agir, seja lá em que for, vai agir de acordo com a totalidade das informações que tem, com a totalidade das influências que recebe. E aí, meu amigo, é uma área onde os pais não podem ter controle total. A última geração de pais que teve esse controle foi no Sertão, cem anos atrás. O filme tem roteiro de Luiz Bolognesi e se baseia numa série de livros juvenis escritos por Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto. A história é basicamente o que acontece ao longo de alguns meses com dois irmãos, Pedro e Mano, que estudam no mesmo colégio, e cujos pais, professores universitários, acabaram de se separar. Pedro é mais velho, já transou, tem namorada fixa, faz música, faz teatro. Mano é mais novo, ainda é virgem, não tem namorada, está aprendendo violão quando na verdade queria tocar era guitarra, é apaixonado por uma garota bonita que sai com todo mundo menos com ele. A história tem pequenos episódios que vão desenvolvendo essa situação inicial, e o mais notável do filme é a espontaneidade que existe nos diálogos, nas ações, no contracenar de uma turma de atores muito jovens, simpáticos, descolados. A maior parte do filme acontece dentro do colégio, e é interessante ver como as aulas são apenas um pano-de-fundo. São algo que acontece ali, mas o que é realmente importante para essa galera (e como isso é verdade!) é o que ocorre no recreio, na chegada ou saída das aulas, nos intervalos, até mesmo nas conversas e torpedos trocados durante a aula. O que é o colégio, nessa idade? É um bode que alguém amarrou no meio da sala. Um dia o bode vai ser tirado dali. Enquanto isso, tenta-se aproveitar ao máximo o resto do tempo que não é ocupado pelo bode. Era assim que eu pensava quando adolescente, e algo me diz que, com variantes, é isso que a galera de hoje continua pensando. As melhores coisas do mundo é bom pela fluência narrativa, pela verdade emocional dos atores, pelos diálogos rápidos e criativos, mas acima de tudo porque não fala de drogas e de sexo, mas de escolhas éticas. A todo instante esses garotos e garotas de 14 ou 15 anos estão sendo forçados a fazer escolhas éticas que têm uma importância de vida ou morte para eles. A adolescência é uma idade em que o mundo se acaba dez vezes por dia, e o pior é que no dia seguinte começa tudo de novo.

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