Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
2224) O viveiro das serpentes (24.4.2010)
(Kris Kuksi, The House of Fascism)
A primeira estratégia do fascismo é desmoralizar a democracia. Enquanto o braço militar se arma em surdina, o braço propagandístico desencadeia uma antipropaganda: a divulgação maciça e constante de todos os erros e corrupções (que não são poucos) do regime democrático, para desmoralizar não só o Presidente, não só o partido governista, não só o governo, mas todo o sistema democrático de livre escolha.
Campanhas do tipo “Todo Político é Corrupto” servem ao fascismo porque induzem ao desânimo, ao desprezo pelos que se candidatam, e a uma receptividade a qualquer “solução excepcional” que se apresente, como o fascismo geralmente faz, com slogans moralizadores, falando em “limpeza”, em “expurgo”, em “eliminação” de todos que fazem mal ao país.
O fascismo se aproveita de episódios de impunidade de toda natureza: esquemas de enriquecimento ilícito, desvios de verbas públicas, nepotismo, suborno do Judiciário, indo até a impunidade dos autores de crimes comuns que aterrorizam a população: assassinatos, estupros, sequestros com morte, chacinas, etc.
Historicamente, muitos regimes fascistas chegaram ao poder sucedendo (pelo voto ou pelas armas) um regime democrático onde a corrupção era generalizada (havia “falta de moral”), a violência nas ruas era ascendente (“falta de autoridade”) e havia uma crise econômica (“falta de competência”).
Ao mesmo tempo, grupos organizados elegem-se para o Congresso, garantindo uma base de suporte de que o fascismo precisará nos momentos em que, sob pressões internas e externas, tiver que passar uma tinta de legitimidade sobre a ferrugem das suas medidas.
Interessa ao fascismo fazer crer que a situação é gravíssima e requer medidas excepcionais. Interessa-lhe fazer crer que o povo é burro e não sabe votar, e que os que se apresentam como candidatos são, invariavelmente, malfeitores de algum tipo.
Quando maior o número de crimes impunes, mais receptiva estará uma parte da população à chegada de um pretenso líder “da mão forte”, que vem para punir de forma rápida e exemplar os culpados, sem se deixar enredar nas firulas e nas tecnicalidades de um processo judicial. Alguém capaz de prometer e de executar uma justiça sumária e rápida contra os criminosos mais notórios, ganhando, assim, credibilidade para quando quiser agir da mesma forma contra quem quer que seja.
O fascismo promete à população preencher essas três faltas.
A primeira, através de um discurso moralista e conservador cuja primeira providência é eliminar a possibilidade de retorno dos políticos corruptos (cancelam-se as eleições).
A segunda, através da repressão policial em todos os níveis.
A terceira, através do atrelamento a alguma potência estrangeira para a importação de tecnocratas, conselheiros militares, empresas, projetos, know-how e um conjunto de medidas bombásticas com efeito paliativo a curto prazo. A população se entusiasma com os “novos tempos” e ajuda o fascismo a fincar raízes.
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