quinta-feira, 24 de junho de 2010

2188) A Lista de Nabokov (13.3.2010)




Não, não tem nada a ver com A Lista de Schindler. Se se parece com alguma referência cinematográfica, talvez seja com A Escolha de Sofia

Colhi no ótimo blog “So Many Books” (http://somanybooksblog.com/) esta lista que Vladimir Nabokov distribuiu com seus alunos numa das Universidades onde lecionou. 

Ao que parece, Nabokov era de opinião que um bom leitor deveria ter pelo menos quatro qualidades. Para não dar de mão beijada quais eram, ele bolou uma lista de dez itens e perguntou aos seus alunos quais seriam as quatro qualidades que, na opinião deles, um bom leitor deveria ter. 

O questionário pode ser vir como um ponto de partida interessante para analisar os hábitos do leitor médio norte-americano em idade universitária, não pelas respostas deles, mas pelas perguntas que um professor calejado e esperto decide fazer-lhes.

Eis as condições indagadas por Nabokov: 

1) O leitor deve pertence a algum tipo de Clube do Livro? 

2) O leitor deve identificar-se com o herói ou a heroína do livro que lê? 

3) O leitor deve se concentrar nos aspectos sócio-econômicos? 

4) O leitor deve achar preferível uma história com ação e diálogo a uma que não contenha isto? 

5) O leitor deve ter visto a adaptação do livro para o cinema? 

6) O leitor deve ser um pretendente a escritor? 

7) O leitor deve ter imaginação? 

8) O leitor deve ter boa memória? 

9) O leitor deve ter um dicionário? 

10) O leitor deve possuir algum senso artístico?

Eu tinha lido a lista original, mas o trabalho de traduzir e digitar tornou a coisa tão óbvia que vou me dispensar de dizer ao leitor quais as quatro qualidades aconselhadas pelo autor de Fogo Pálido

Um detalhe importante, para mim, é um certo grau de responsabilidade que Nabokov projeta sobre o leitor. Ouço gente reclamar de certos livros, que os livros são difíceis, e que o autor parece estar dificultando de propósito a leitura. Parece não ocorrer a esses leitores que a leitura de um livro, mesmo um livro de entretenimento, pressupõe algum tipo de esforço intelectual. E é muito difícil ler um livro quando o leitor não sente prazer em realizar esforços intelectuais.

A historiadora Margaret Dalziel definia literatura popular como sendo aquela que exigia um mínimo de esforço por parte do leitor. São os folhetins baratos, a pulp fiction de aventuras policiais ou de FC, a literatura de amor tipo Bianca ou Sabrina... Essa literatura dirige-se em princípio a pessoas que têm apenas a instrução básica, e que leem livros para se distrair. Não querem – e não podem – alçar voos nas estratosferas da intelectualidade. 

Leem para passar o tempo; são proletários fatigados querendo descansar o juízo depois de um dia estafante. O problema é que quem lê esses livros são cada vez menos os proletários (para eles existe a TV) e cada vez mais uma classe média que poderia, sim, ler uma literatura mais desafiadora, e não o faz por mero conformismo e inércia mental.





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