Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
terça-feira, 8 de junho de 2010
2119) A invasão britânica (23.12.2009)
O Canal Multishow exibiu o documentário The Beatles – The First US Visit, com material de arquivo sobre a primeira ida dos Beatles aos EUA em 1964, quando entre outras coisas eles fizeram três apresentações no Ed Sullivan Show, batendo todos os recordes de audiência. Numa campanha bem conduzida pelo empresário Brian Epstein (que neste documentário vi falando pela primeira vez, pelo que me lembro), essa viagem foi o trampolim dos Beatles para o sucesso. Conquistando a América, os cabeludos conquistaram o mundo.
Todo artista pop que fazer sucesso na “terra do sonho distante”. Como diz a letra de “New York, New York”: “Se eu fizer sucesso ali, faço em qualquer canto”. Porque é ali que a competição é mais ferrenha, as apostas são mais altas, as raposas mais predadoras, as alianças e os contratos mais cheios de talvezes e de poréns. Bob Dylan, que desembarcou em Manhattan apenas dois anos antes dos Beatles, disse em suas Crônicas: “Era um mundo estranho que começava a se mostrar, um mundo semelhante a uma trovoada com raios coruscando nas bordas. Muitos o enxergaram erradamente e ainda hoje não sabem vê-lo do jeito certo. Eu mergulhei direto nele. Estava escancarado. Uma coisa é certa, quem mandava ali não era Deus – mas também não era o Diabo”.
Os Beatles eram cromossomicamente menos metafísicos do que Dylan. (Um dia ainda vou pesquisar quais foram, cronologicamente, as primeiras aparições das palavras “God” e “Devil” nas letras de Lennon e MacCartney.) Queriam apenas tocar, sacudir a cabeleira, dizer piadas nas entrevistas e levar garotas para a suíte. Mas sonhavam há muito em invadir aquela praia. Parecia impossível, até uma noite no começo de 1964, quando estavam cantando no Olympia de Paris, uma temporada problemática (a imprensa francesa os esnobava) e deficitária (o cachê não cobria os custos, e Brian hospedou a equipe inteira no Hotel Georges Cinq). Após o show, o fotógrafo Dezo Hoffmann (que acompanhava o grupo) estava jantando quando recebeu um recado para voltar urgente ao hotel. Ele recorda: “Brian Epstein estava sentado numa cadeira e os Beatles estavam sentados no chão à sua volta. Brian me disse ter acabado de receber a notícia de que “I Wanna Hold Your Hand” tinha alcançado o primeiro lugar na parada de sucessos dos Estados Unidos. Os Beatles não conseguiam falar; nem mesmo Lennon. Estavam só ali, sentados como gatinhos, aos pés de Brian.”
Semanas atrás, no programa de David Letterman, Sir Paul MacCartney, aos 67 anos, recordou aquelas apresentações no show de Ed Sullivan (no mesmo prédio onde Letterman se apresenta hoje). Disse ele que a produção do programa lhe pediu para cantar “Yesterday” sozinho, sem o resto da banda. Ele hesitou, mas cedeu. Na hora em que a cortina ia se abrir, um técnico perguntou ao cantor de 22 anos: “Está nervoso?”. “Não”, disse ele. O outro retrucou: “Pois devia estar. Tem 75 milhões de pessoas assistindo o que você vai fazer agora”.
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