Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 30 de maio de 2010
2097) A primeira revista de FC (27.11.2009)
(ilustração: Marcelo Grassmann)
Há um certo consenso, entre os historiadores de ficção científica, de que o gênero ganhou existência editorial própria a partir de 1926, com a criação da revista Amazing Stories, de Hugo Gernsback, onde o termo “science fiction” começou a ser usado. Claro que antes disso já havia uma literatura inteira: Julio Verne, H G. Wells, todo esse pessoal das “voyages extraordinaires” francesas e dos “scientific romances” britânicos. Mas os norte-americanos gostam de contar a História Universal a partir dos seus próprios feitos. (Os brasileiros, se pudessem, fariam o mesmo.) E há muito tempo que virou uma espécie de esporte acadêmico indicar revistas em outros países que, com certa flexibilidade de critérios, pudessem ser indicadas também como “a primeira revista de FC”, ou pelo menos uma precursora (a primeira revista de contos fantásticos).
A pesquisadora sueca Ahrvid Engholm trouxe agora, através da lista de mensagens Rede Global Paraliterária (RGP), um título que me parece imbatível. Trata-se de Relationes Curiosae, revista publicada em Hamburgo (Alemanha) em 1682 e traduzida para o sueco e republicada em Estocolmo no mesmo ano. A revista tinha um título alternativo em alemão, "Gröste Denckwürdigkeiten der Welt", e sua edição sueca teve 48 números, que estão arquivados na Biblioteca Nacional de Estocolmo. Diz ela: “Tenho fotocópias de alguns números escolhidos, ilustrações, capas, etc. Ao que parece, a edição alemã, editada por um tal E. W. Happel, também está preservada em bibliotecas alemãs. O Google dá várias indicações. (...) Quanto ao conteúdo da revista, ela consiste em histórias fantásticas do começo ao fim. Histórias sobre dragões, sereias, pessoas morando na Lua, carruagens que andam sozinhas, pessoas vivendo no fundo da terra, fogo que não se apaga, etc. De acordo com o estilo da época, as histórias são contadas como se fossem contos de fadas. Por exemplo: ‘Fala-se que na Inglaterra, naquela época, as pessoas ficaram espantadas com estranhas criaturas que surgiram do fundo da Terra... Os anciãos decidiram que as criaturas deviam aprendem a língua local e viver no meio deles’. Ou então: ‘Era uma vez um grupo de bravos cavaleiros que enfrentaram um dragão maligno...’”
A literatura fantástica é antiga como o mundo, está presente na literatura oral, nos mitos, lendas, fábulas. Rastreamos sua presença em publicações impressas pós-1500 porque o paradigma realista se impôs a tal ponto que o que antes era a regra tornou-se a exceção. Essas histórias recuaram para segundo plano diante do crescimento do romance burguês, factual, analítico, “realista”. A descoberta da Prof. Engholm não será necessariamente a última. Mas ela traz mais um elemento importante na história dessa literatura que tenta reproduzir a totalidade do Universo, até porque, como disse Jorge Luís Borges, “ainda não sabemos se o Universo pertence ao gênero realista ou ao gênero fantástico”.
Já num congresso em 1997 o assunto tinha sido abordado, tal como foi feito a este semanário por Flemming Schock.
ResponderExcluirJá em 2007: http://www.freelists.org/post/skriva/Fredrag-utkast, a autora, tinha abordado o assunto.
ResponderExcluirO mais importante destas descobertas, Álvaro, é mostrar que o interesse pelos temas ditos fantásticos sempre existiu. E que em bibliotecas do mundo inteiro existem publicações semelhantes, esquecidas há muito tempo, à espera de quem vá remexer nesses arquivos e encontrá-las.
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