Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 16 de maio de 2010
2048) Micronações (1.10.2009)
Uma micronação é um pequeno território que se auto-proclama independente, elege um presidente (ou coroa um rei), manda compor um hino e desenhar uma bandeira, e daí em diante passa a se comportar como se fosse um país igual a qualquer outro, mesmo que tenha apenas meia dúzia de quilômetros quadrados e três dúzias de habitantes. Não preciso ir muito longe para me fazer entender: a “República de Princesa”, proclamada em 1930 pelo Coronel José Pereira, é um exemplo bem nosso de um processo que sempre ocorreu mundo afora, embora não conheçamos esses casos (como aliás pouca gente, fora da Paraíba, sabe da história de Princesa).
Talvez a mais famosa micronação do mundo seja Mônaco, que todo mundo conhece por causa do Grande Prêmio de Fórmula 1, do fato de que teve como princesa uma atriz de Hollywood (Grace Kelly), e dos cassinos de Montecarlo. Na verdade Mônaco é uma cidade-estado: os limites da nação coincidem com os limites da própria cidade, encurralada entre a França e o Mar Mediterrâneo. Sua área é de 2 km quadrados; sua população de 33 mil pessoas. Tenho pra mim que se Campina Grande cismasse dos pés e decidisse ficar independente, teria um cacife geopolítico muito maior.
Minto. A micronação mais famosa é a Cidade do Vaticano, uma ilha cercada de Roma por todos os lados. Dizem as más línguas, em todos os idiomas, que foi uma concessão territorial feita por Mussolini à Igreja Católica, o que teve como contrapartida uma prudente omissão papal diante das truculências subsequentes do fascismo. O Vaticano tem 0,44 km quadrados e uma população avaliada (em junho de 2009) em 826 habitantes.
Como se pode ver, são duas nonadas, duas tutaméias, duas pixilingas de país, e não obstante o mundo inteiro os conhece e respeita. O Vaticano rege a vida espiritual de um bilhão de pessoas. Mônaco é uma espécie de “Ilha de Caras” européia, um lugar que parece ter metade da população de gente rica e famosa, e a outra metade de “paparazzi”. Claro que nenhum dos dois resistiria a uma invasão armada, e até mesmo o Coronel Zé Pereira, se invadisse um dos dois, teria boas probabilidades de um belo triunfo militar.
Esta é uma questão interessante, porque a micronação é um fenômeno que irá se multiplicar no mundo caso venhamos a passar por uma grande catástrofe mundial (por exemplo, quando os Bancos quebrarem de novo e os Governos não tiverem 4 ou 5 trilhões de dólares sobrando; ou quando cair um grande meteoro no planeta). Quando um Estado central não consegue mais administrar a vida do país, a tendência é que ele se estilhace em pequenos feudos, onde caudilhos locais se encarregarão de armar parte da população para auto-defesa, e de coordenar a produção e distribuição de alimentos. Estas últimas décadas têm visto em grande escala a fragmentação de conglomerados em nações menores. Os exemplos mais evidentes são a URSS e a Iugoslávia. Gostaria de saber quantas e quais serão as principais micronações do mundo daqui a 50 anos.
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