Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
2028) Argentina 1x3 Brasil (8.9.2009)
Um senso inato de justiça me faz erguer, nesta página de hoje, um brinde metafórico à Seleção Brasileira e ao técnico Dunga, tantas vezes vilipendiado nesta página. O esporte é assim, amigos. O que queremos é resultado, e quando falo em resultado não me refiro apenas ao placar numérico, mas ao que um time mostra em campo. Discutimos há milênios a questão bizantina sobre o que nosso time precisa fazer: jogar feio e ganhar, ou jogar bonito e perder. O jogo de sábado passado, no estádio de Rosário, nos deu uma terceira alternativa: jogar com firmeza e ganhar com autoridade. O Brasil deu um banho de bola? Não deu. Humilhou a Argentina deu olé, deu goleada, deu pedalada, deu banho-de-cuia? Não deu. O jogo foi disputado, foi duro, foi nervoso, foi ríspido (era dentro do tal “caldeirão”, mas quem deu mais pancada fomos nós), mas a cada dez minutos que se passavam ia ficando cada vez mais claro quem estava extraindo o melhor do jogo, e era o time de Dunga.
Critico Dunga pela sua vocação defensiva, porque nossas melhores qualidades no futebol são as que se exprimem no ataque. Dunga, o jogador, era um destruidor nato, mas não era violento. Era um aporrinhador de atacantes, um carrapato, um prego na chuteira, grudava-se a eles como o Velho da Montanha grudava-se à cacunda do marinheiro Sindbad, sem dar-lhes um segundo de sossego. Seu time, desde que assumiu, tem exercido com perfeição essas tarefas, contando com defensores sempre firmes e sem firulas. Na frente, Ronaldinho Gaúcho nunca mais jogou nada, Robinho só aparece de vez em quando, e quem tem brilhado mesmo são Kaká e o predestinado Luís Fabiano.
O leitor talvez recorde a famosa luta em que Evander Hollyfield tomou de Mike Tyson, então imbatível, o cinturão dos pesos-pesados. Hollyfield entrou para se defender, porque calculou que Tyson estava acostumado a ganhar lutas-relâmpago e não aguentaria o desgaste de uma luta muito longa Deu certo. Ele aguentou a “blitzkrieg” de Tyson durante três, cinco, seis assaltos, e daí em diante Tyson foi se cansando, se desorientando, e aí Hollyfield partiu pra cima dele “como a vaca partiu pra Mestre Alfredo”. Algo parecido tem feito a seleção de Dunga em jogos cruciais como as vitórias recentes sobre o Uruguai e a Argentina no campo do adversário. Eles que venham. Com uma defesa cheia de xerifes, bem postada e solidária, o time se fecha. Júlio César, lá atrás, faz de vez em quando uns pequenos milagres aos quais já vamos nos acostumando. E quando o time parte para a frente tem recursos para brilhar.
O jogo de Rosário não foi tecnicamente brilhante, mas o futebol não é apenas técnica, embora este seja o seu aspecto mais bonito, a exibição de talento com a bola. Futebol também é ter nervos sob controle, saber acelerar ou retardar o ritmo do jogo, dar porrada quando é preciso, disputar cada bola como se o jogo fosse de basquete e faltassem quinze segundos. A seleção de Dunga finalmente aprendeu a fazer tudo isto.
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