Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
1944) Charadas infames (2.6.2009)
Pelo que vejo nas bancas de revistas, a arte das palavras cruzadas continua viva, mas não sei se o mesmo acontece com a arte da charada. Meu pai era charadista, e eu cresci cercado de dicionários especializados, ajudando-o, com minha irmã Clotilde, a procurar sinônimos obscuros ou palavras que correspondessem a definições do tipo “planta da família das Euforbiáceas” ou coisa desse tipo. Existem dezenas de tipos de charadas. A mais comum é a adicionada (outrora chamada de “novíssima”): uma frase tem algumas palavras em destaque. Estas são as “pedras”, pedindo sinônimos que, montados juntos, dão um sinônimo do “conceito”, que é a última palavra. O número de sílabas de cada “pedra” é indicado. Uma bem rudimentar: “EM CIMA do MÓVEL está o DOCE. 2,2” Em cima, com 2 sílabas: sobre. Móvel, com 2 sílabas: mesa. Doce, 4 sílabas: sobremesa.
Os sinônimos não precisam ser exatos. “A MULHER com a LATA na CABEÇA anda DEVAGAR. 2,2,2.” A resposta é: paulatinamente. A charada ideal, no entanto, é uma frase fluente, que faz sentido e não parece forçada, e na qual a substituição das “pedras” pelas respostas, com a necessária adaptação de gêneros, continua produzindo uma frase igualmente fluida. Ocorre no primeiro caso: “Sobre a mesa está a sobremesa”. Não acontece com o segundo exemplo: “Paula com a tina na mente anda paulatinamente”. A frase fica forçada e meio sem sentido.
Alguns charadistas defendem o uso de sinônimos um tanto oblíquos. Lembro que uma vez me propuseram esta charada: “UM OLHAR MORTO. 2,1” Quebrei a cabeça e nada. O cara me explicou: “Um: cada. Olhar: ver. Morto: cadáver”. Gostei tanto que criei algumas variações, como a que proponho ao leitor: “UM ERRÔNEO CASTIGO. 2,2”. Percebi que várias palavras poderiam servir como sinônimo oblíquo para “um”, e produzi outras: “UM GRITO ELEVADO. 1,2”; “UM RÁPIDO SOLILÓQUIO. 2,2”. Outra dessas oblíquas é “FOI PRETO e ACABOU-SE. 1,2” Também não decifrei, e me explicaram: “Foi: ex. Preto: tinto. Acabou-se: extinto”.
Mas o melhor são as charadas infames, em que as palavras são voluntariamente deformadas, de modo que a solução é algo que soa parecido, mas que ninguém seria capaz de adivinhar. Uma das minhas preferidas é: O ANIMAL NA TORRE DA IGREJA ENCONTRA-SE DOENTE. 2,2” Não adianta quebrar a cabeça como o fiz durante dias inteiros, porque quando desisti me disseram que a resposta era: “O animal: tatu. Na torre da igreja: sino. Encontra-se doente: tá tussino”.
Uma pequena obra-prima do nonsense e do trocadilho infame é esta outra, que necessita de uma certa introdução. Em 1922, os aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral fizeram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, saindo de Portugal e chegando ao Brasil. Tornaram-se figuras famosas nos dois países. A charada dizia: “SOFRE DE GAGUEIRA o FILHO DO COUTO, mas NÃO É ELE, É O OUTRO. 2,3”. A resposta da charada, evidentemente, é: “Sacadura Cabral”.
Muito divertidas! Amei.
ResponderExcluirDemorei, mas matei as charadas:
ResponderExcluirCadafalso, sobrado e monólogo.
Na mesma variação, bolei um:
RECOLHE RÁPIDO os LIVROS. 2,2.