(Terry Bisson)
A revista norte-americana Locus está para a ficção científica assim como a Rolling Stone está para o rock. É ali que está a informação mais atualizada e mais confiável, mesmo que as análises mais críticas e mais profundas estejam em outra parte.
Nos últimos anos, a Locus convidou o escritor Terry Bisson para contribuir com pequenas vinhetas de meia-dúzia de linhas sobre acontecimentos do futuro, sob o título “This Month in History”. O resultado, em forma de pequenas notícias sobre fatos espantosos ou surpreendentes, é um conjunto de pseudo-profecias que além de divertidas lançam uma certa luz sobre o nosso presente. Vejamos:
“29 de outubro de 2064. Chegaram os besouros. Atendendo a um pedido pessoal do Prefeito Trump, o Departamento de Saúde de New York aprova o Crunch Crazy, a primeira rede de fast-food baseada em insetos fritos, a tempo de permitir sua inauguração na semana de Halloween. As pequenas iguarias têm se mostrado populares principalmente entre os turistas de Times Square” (Locus, outubro 2008).
A notícia sugere um prolongamento político da dinastia de Donald Trump e a invasão da cultura chinesa (e do dinheiro chinês) na economia americana – de onde seriam, afinal, esse turistas em Times Square?
“1 de outubro de 2123. Meca substitui Greenwich. Muçulmanos do mundo inteiro comemoram, e os cartógrafos lamentam, na data em que é oficializado o novo Primeiro Meridiano do globo terrestre” (Locus, outubro 2008).
Achamos engraçado porque nunca nos perguntamos porque motivo o zero cartesiano dos fusos horários fica em Londres. Mas quem sabe se daqui a um século outro valor mais alto não se alevanta?
Estas duas historietas demonstram não apenas a leveza e mordacidade do humor de Terry Bisson, mas uma tendência do mundo e da FC norte-americana: a transferência gradual de poder do Ocidente para o Oriente, que começou com a criação da União Soviética, cuja decadência na segunda metade do século 20 correu paralela ao crescimento do Japão como uma das grandes economias mundiais. A crise do petróleo dos anos 1970 revelou o poder de um grupo de países árabes, contrastando com a pobreza de grande parte dos demais.
Na virada para este século, foi a China que disparou como grande potência. As nações do grupo chamado de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) continuam a ser consideradas como forças ascendentes (reascendente, no caso da Rússia). A força política dos países islâmicos, aliada a suas riquezas, transferiu para países como Afeganistão, Iraque e Irã uma fronteira bélica-política que tem sido uma das principais sangrias financeiras dos EUA, e uma das maiores razões para sua perda de popularidade.
Estas duas historietas demonstram não apenas a leveza e mordacidade do humor de Terry Bisson, mas uma tendência do mundo e da FC norte-americana: a transferência gradual de poder do Ocidente para o Oriente, que começou com a criação da União Soviética, cuja decadência na segunda metade do século 20 correu paralela ao crescimento do Japão como uma das grandes economias mundiais. A crise do petróleo dos anos 1970 revelou o poder de um grupo de países árabes, contrastando com a pobreza de grande parte dos demais.
Na virada para este século, foi a China que disparou como grande potência. As nações do grupo chamado de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) continuam a ser consideradas como forças ascendentes (reascendente, no caso da Rússia). A força política dos países islâmicos, aliada a suas riquezas, transferiu para países como Afeganistão, Iraque e Irã uma fronteira bélica-política que tem sido uma das principais sangrias financeiras dos EUA, e uma das maiores razões para sua perda de popularidade.
Autores de FC, antenados com essa evolução, e sempre atentos para “a direção em que o vento sopra”, começam a diversificar seus cenários, como o irlandês Ian MacDonald que recentemente escreveu romances ambientados na Índia e no Brasil. O futuro é aqui fora, e os americanos sabem disso.
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