Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 11 de abril de 2010
1893) O Pato vs. o Peru (3.4.2009)
Dizer que futebol não tem lógica é como dizer que mulher não tem coração. Ter, tem, o diabo é conseguir prever como funciona. No domingo passado a Seleção Brasileira empatou em 1x1 com o Equador, em Quito, cumprindo o que boa parte da imprensa considerou uma de suas piores partidas em muitos anos. Não sei se foi, porque não vi o jogo – tenho melhores coisas para ocupar meus fins-de-tarde de domingo. Mas nesta quarta-feira à noite me abanquei no sofá para ver Brasil x Peru. Primeiro, porque me parecia uma “barbada”; segundo, porque o jogo era em Porto Alegre, ótima ocasião para ver como a torcida reagia à presença dos gaúchos Dunga, Alexandre Pato e Ronaldinho.
O Brasil jogou uma merrequinha de bola, suficiente para ganhar de 3x0 e acabar a rodada em segundo lugar, beneficiando-se de maus resultados dos adversários diretos, especialmente a goleada (que tive a sorte de assistir até o fim) da Bolívia sobre a Argentina por 6x1. Pegando os peruanos no Beira Rio, o Brasil começou demonstrando uma certa velocidade, toques numerosos e rápidos de primeira, bom senso de deslocamento. Fez 2x0 no primeiro tempo com um gol de pênalte e um gol em impedimento, ambos de Luís Fabiano. No segundo, relaxou, e fez mais um, numa arrancada atabalhoada e brilhante de Felipe Melo, que saiu dividindo, trombando, cambaleando, mas entrou na área e tocou para dentro com malícia de atacante.
A torcida saiu mais ou menos pacificada. Afinal de contas ganhamos, fizemos gols, e mostramos as pedaladas e os dribles que encantam os incautos. Mas fica depois desses jogos uma eterna sensação de expectativa insatisfeita. O Brasil é um time ao qual não basta jogar bem e ganhar. É preciso “dar espetáculo”, o que por um lado me irrita porque demonstra a esperança de uma catarse que nos redima de nosso complexo de inferioridade, mas por outro lado exprime uma coisa boa, a visão do futebol como um jogo bonito, onde a firula e o enfeite são mais importantes do que a disputa pessoal e a competição coletiva. Quando o esporte começa a ficar competitivo demais, disputado demais, nada como um pouco de firula para nos lembrar que tudo aquilo não significa nada, nadica de nada.
Duvido que o Brasil deixe algum dia de se classificar para a Copa nessas Eliminatórias, que classificam cinco seleções do continente. Mesmo com Dunga no comando e com uma geração de entressafra, dificilmente conseguiremos formar um time tão fraco que seja suplantado por cinco outras seleções de países vizinhos. Aqui e acolá temos um craque em campo, aqui e acolá as peças se encaixam, aqui e acolá vamos ganhando clássicos contra os que realmente ameaçam (Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia e alguma novidade, que desta vez é o Paraguai). O que entra em disputa nessas Eliminatórias não é a possibilidade de ir à Copa, é a possibilidade, sempre aberta, de reencontro com um futebol lúdico, brilhante, enfeitado e moleque que por algum motivo nos exprime, nos conforta e nos enriquece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário