terça-feira, 6 de abril de 2010

1873) 200 anos de Edgar Poe (11.3.2009)



Meses atrás, celebrando o centenário da morte de Machado de Assis, publiquei nestas colunas alguns artigos em que comentava meus contos preferidos do mestre. (Nem comentei todos; deixei alguns de que gosto muito para comentar mais adiante, quando faltar assunto.)  
Agora, quero aproveitar e fazer o mesmo com Edgar Allan Poe, um dos meus escritores favoritos desde a infância, cujo segundo centenário se comemora este ano. 

Poe nasceu em 1809 e morreu em 1849. Em apenas 40 anos de vida escreveu uma obra de quantidade e qualidade impressionantes. Meu volume dos Complete Tales and Poems (Vintage Books) tem 1.026 páginas. O de Essays and Reviews (The Library of America) tem 1.472 (excluindo as notas e o índice remissivo). 

Tudo isto escrito à mão, e quase sempre no estado de absoluta penúria financeira, agravada pelo jogo e pela bebida.

Poe foi um precursor, no começo do século 19, de três tipos de literatura que estiveram entre os mais populares do século 20, e sem sinais de decadência no 21: 

1) a narrativa de terror psicológico ou de terror sobrenatural; 

2) o conto policial analítico-detetivesco; 

3) a ficção científica. 

Todos os praticantes de alguma importância nestes três gêneros, durante os últimos 150 anos, leram Poe em algum momento de suas vidas, e lembram bem o que leram.

Sem falar em Poe, o poeta. Pelo menos três poemas dele (para o meu gosto) são clássicos irretocáveis: “O Corvo”, “Annabel Lee” e “Ulalume”. 

Muitos críticos torceram o nariz para seu vocabulário opulento e suas sonoridades exageradas, mas dentro da chamada poesia simbolista os momentos mais altos de Poe não foram facilmente superados pelos que aprenderam com ele. 

Um outro aspecto é o de Poe, o crítico. O jornalismo literário num país provinciano como os EUA de seu tempo era uma espécie de igrejinha laudatória. Escritores se elogiavam mutuamente nas revistas e jornais, e construíam reputações diante de um público embasbacado e sem muitos parâmetros críticos para distinguir quem era bom mesmo, e por quê.

Poe foi um crítico que não apenas estourou sem piedade as reputações alheias como se fossem bolhas de sabão: ele mostrava por que motivo os contos, poemas e romances de A, B ou C não prestavam. 

Dissecava a sintaxe, os processos estilísticos, revelava os barbarismos, os clichês, as encheções de lingüiça. Denunciava os plágios e as imitações; comparava os famosos do momento com os clássicos (desconhecidos do público) a quem esses famosos estavam descaradamente imitando. E assim por diante. 

Foi sua verve de crítico, infelizmente, que ajudou a destruir sua vida, com os muitos inimigos que arranjou (sem falar nos seus defeitos evidentes, claro – a bebida, em primeiro lugar). 

Poe teve uma vida trágica e deixou uma obra que brilha cada vez mais, 160 anos após sua morte. Qual o grande escritor de hoje que ainda será tão lembrado no ano de 2169?




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