sábado, 27 de março de 2010

1830) Os raros e os caros (20.1.2009)



O saite Abebooks (American Book Exchange) é uma espécie de Estante Virtual internacional, ou seja, um portal que centraliza os bandos de dados de centenas de sebos, o que nos possibilita com apenas uma busca localizar todos os exemplares disponíveis do livro que nos interessa, e escolher o que mais nos convém. Todo começo de ano o saite publica uma circular ilustrada onde exibe os livros mais caros que vendeu no ano anterior. Não estou falando sobre o mercado de livros raros pra valer, aquele onde concorre gente como José Mindlin e outros. Esse mercado lida com manuscritos raros, obras dos séculos 17 e 18, etc. Falo de livros recentes e teoricamente acessíveis a qualquer um.

A circular de 2008 (ver em: http://www.abebooks.com/books/most-expensive-2008.shtml) chegou com algumas informações curiosas, que dão o que pensar sobre o mercado livreiro. A obra mais cara vendida no ano passado foi uma coleção de 25 gravuras em água-forte do pintor Francis Seymour Haden, que foi vendida por 17 mil dólares e uns quebrados. Não é um livro, contudo. O livro mais caro vem logo a seguir: uma primeira edição, de 1878, autografada, dos diários parisienses do árabe Abu Naddara, que foi vendido por 13 mil dólares. E a moeda de bronze ficou para uma rara primeira edição (autografada pela autora e pelo ilustrador) de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, vendido por 12.874 dólares. O valor deste último se deve ao fato de que na primeira prensagem um bloco de texto ficou ligeiramente fora de alinhamento. Da segunda prensagem em diante o problema foi corrigido, mas, pela lógica perversa do mercado de raridades, os livro defeituosos ficam valendo uma fortuna.

A Abebooks relaciona os livros mais caros vendidos em cada gênero, e na seção “Fotografia” fiquei sabendo que The Americans, o livro clássico de fotos P&B de Robert Frank, teve dois exemplares de sua primeira edição, de 1959, vendidos respectivamente por 4.357 e 3.164 dólares. Por coincidência, tenho aqui em casa um exemplar da segunda edição, de 1968, com prefácio de Jack Kerouac, e já me pergunto se devo ou não devolvê-lo a Antonio Augusto Fontes, que cometeu a imprudência de mo emprestar. Sendo segunda edição, deve valer pelo menos a metade da primeira.

A seção de “Poesia” foi encabeçada por duas primeiras edições: Poems 1909-1925 de T. S. Eliot (US$ 8.500) e The Collected Poems de D. H. Lawrence (US$ 4.983). Na de “Ficção Científica” fiquei sabendo que houve quem pagasse 7.950 dólares por uma primeira edição de Out of the Silent Planet de C. S. Lewis (1938), e 6.780 dólares por uma primeira edição de Nineteen eighty-four de Orwell (com o título escrito por extenso, aliás, prática que nem sempre é repetida nas edições de hoje).

Por que esses livros valem tanto? Valem apenas para quem os compra, e, em consequência, para quem os vende. O mercado de raridades é um mercado afetivo, movido pelo amor, o qual, de vez em quando, pode ser medido em cifrões.

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