Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 27 de março de 2010
1830) Os raros e os caros (20.1.2009)
O saite Abebooks (American Book Exchange) é uma espécie de Estante Virtual internacional, ou seja, um portal que centraliza os bandos de dados de centenas de sebos, o que nos possibilita com apenas uma busca localizar todos os exemplares disponíveis do livro que nos interessa, e escolher o que mais nos convém. Todo começo de ano o saite publica uma circular ilustrada onde exibe os livros mais caros que vendeu no ano anterior. Não estou falando sobre o mercado de livros raros pra valer, aquele onde concorre gente como José Mindlin e outros. Esse mercado lida com manuscritos raros, obras dos séculos 17 e 18, etc. Falo de livros recentes e teoricamente acessíveis a qualquer um.
A circular de 2008 (ver em: http://www.abebooks.com/books/most-expensive-2008.shtml) chegou com algumas informações curiosas, que dão o que pensar sobre o mercado livreiro. A obra mais cara vendida no ano passado foi uma coleção de 25 gravuras em água-forte do pintor Francis Seymour Haden, que foi vendida por 17 mil dólares e uns quebrados. Não é um livro, contudo. O livro mais caro vem logo a seguir: uma primeira edição, de 1878, autografada, dos diários parisienses do árabe Abu Naddara, que foi vendido por 13 mil dólares. E a moeda de bronze ficou para uma rara primeira edição (autografada pela autora e pelo ilustrador) de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, vendido por 12.874 dólares. O valor deste último se deve ao fato de que na primeira prensagem um bloco de texto ficou ligeiramente fora de alinhamento. Da segunda prensagem em diante o problema foi corrigido, mas, pela lógica perversa do mercado de raridades, os livro defeituosos ficam valendo uma fortuna.
A Abebooks relaciona os livros mais caros vendidos em cada gênero, e na seção “Fotografia” fiquei sabendo que The Americans, o livro clássico de fotos P&B de Robert Frank, teve dois exemplares de sua primeira edição, de 1959, vendidos respectivamente por 4.357 e 3.164 dólares. Por coincidência, tenho aqui em casa um exemplar da segunda edição, de 1968, com prefácio de Jack Kerouac, e já me pergunto se devo ou não devolvê-lo a Antonio Augusto Fontes, que cometeu a imprudência de mo emprestar. Sendo segunda edição, deve valer pelo menos a metade da primeira.
A seção de “Poesia” foi encabeçada por duas primeiras edições: Poems 1909-1925 de T. S. Eliot (US$ 8.500) e The Collected Poems de D. H. Lawrence (US$ 4.983). Na de “Ficção Científica” fiquei sabendo que houve quem pagasse 7.950 dólares por uma primeira edição de Out of the Silent Planet de C. S. Lewis (1938), e 6.780 dólares por uma primeira edição de Nineteen eighty-four de Orwell (com o título escrito por extenso, aliás, prática que nem sempre é repetida nas edições de hoje).
Por que esses livros valem tanto? Valem apenas para quem os compra, e, em consequência, para quem os vende. O mercado de raridades é um mercado afetivo, movido pelo amor, o qual, de vez em quando, pode ser medido em cifrões.
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