segunda-feira, 22 de março de 2010

1814) “Na ponta do verso” (1.1.2009)



No Brasil há numerosas formas de poesia improvisada, geralmente com acompanhamento musical. Só aqui no Nordeste temos a Cantoria de Viola, o Coco de Embolada, o Aboio e outras. Todos esses gêneros já foram objeto de estudo em livros e ensaios, mas são raros, ao que eu saiba, os volumes que tentam dar uma visão geral em todas as nossas formas de improviso popular. Um volume saído recentemente é “Na Ponta do Verso”, editado pela Associação Cultural Caburé (cabure@cabure.org.br), do Rio de Janeiro. O livro foi precedido por uma série de espetáculos realizados no Centro Cultural banco do Brasil, no Rio, em que diferentes grupos de improvisadores se exibiram, em 2005.

Deixo logo claro o meu envolvimento com o projeto, pois sou o autor do ensaio sobre Cantoria de Viola que abre o volume. Os demais ensaios são: “Aboio: canto de trabalho e gênero poético”, de Maria Ingnez Ayala, da UFPB; “Samba novo: a poesia do maracatu de baque solto”, autoria conjunta do compositor Siba (do grupo “Fuloresta do Samba”) e de Astier Basílio, nosso coleguinha aqui do jornal; “Coco de embolada: mágica na palavra e no pandeiro” também de Maria Ignez Ayala; “Partido-alto: a receita do samba integral” do compositor e pesquisador Nei Lopes; “O calango fluminense” de Cáscia Frade; “Versos de improviso nas chulas de palhaços de folias de reis”, de Daniel Bitter; “Cururu paulista”, de Alberto Ikeda e “A pajada no Rio Grande do Sul” de Paulo de Freitas Mendonça.

Para completar, o volume de 172 páginas vem acompanhado de um CD com 16 faixas. Entre elas destaco um baião de sextilhas com Ivanildo Vila Nova e Sebastião da Silva, extraído dos shows do projeto no CCBB. O coco “Boi Tungão” com José da Silva Sobrinho e Manuel Fausto de Lima, é uma gravação de 1938 feita pela Missão Mário de Andrade em Sousa (PB). Da mesma missão cultural é a rara gravação de um martelo agalopado com Belarmino de França e Lourival Batista, feita também em 1938 em Pombal. Outra gravação histórica é o partido alto cantado por Clementina de Jesus e João da Gente, extraído de um disco de 1966. As demais gravações são de data recente, em discos ou apresentações ao vivo, e trazem, entre muitos outros, os mestres de maracatu Siba, João Paulo e Barachinha, e os partideiros Tantinho da Mangueira e Marquinho China.

Este é um excelente portal de acesso para uma coisa que mesmo no Nordeste há quem não veja de forma muito nítida: o Repente. O Repente, amigos, não é uma estrofe específica, não é uma melodia, nem um estilo de cantar ao som de um só instrumento. As formas são inúmeras, e de algumas delas este livro-CD dá uma amostra. Repente é o verso improvisado, composto ou recomposto em fração de segundo. O Repente é o relâmpago, o verso súbito. Pode até ter sido extraído da memória, mas isso acontece em função do momento: para responder ao verso do parceiro, para atender um pedido da platéia ou para reagir a um fato que acabou de acontecer.

3 comentários:

  1. É uma grande lástima que os educadores paraibanos, os professores universitários, e a mídia jornalística esquecido ou até nem percebido a importância da divulgação massiva da cultura característicamente paraibana que é o repente. A Paraíba precisa mostrar seu valor!
    Seus textos são sempre fantásticos ou fantasmos. (risos)

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  2. Thank you for your inspirational work. I'm a student in the USA, and I would really like to buy this book. What's the best way to access it?

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  3. Megs, the book is out of print for some time now. Should you wish to contact its editor, Alexandre Pimentalç, his email is: alexandre.o.pimentel@gmail.com

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