Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
1717) Desenrola, Dunga (12.9.2008)
É a velha história: a gente não pode elogiar. Dá um azar danado. O elogiado se acomoda, pensa que não precisa fazer mais nada, e dá no que deu. Domingo passado, coberta de críticas, jogando contra o Chile no alarido de Santiago, o Brasil soube construir um placar vitorioso e, com um jogador a menos, mantê-lo. Quarta-feira, a Seleção, coberta de elogios, enfrentou no Rio de Janeiro a Bolívia (que ocupa a lanterna das Eliminatórias) e, com um jogador a mais, não conseguiu fazer um mísero golzinho. Pior: não conseguiu sequer tentar. Nunca a Seleção foi tão Dunga. Eu devia ter lembrado daquela velha máxima futebolística: zebra que se preza não ganha dois seguidos.
A explicação mais óbvia é que o Chile, jogando em casa, incentivado por uma imprensa ufanista e por uma torcida igual a qualquer outra, partiu para cima do Brasil, tentando a vitória, e levou três gols. Já a Bolívia, escaldada por um século de goleadas, veio jogar com uma retranca digna do treinador brasileiro, e não deu espaço, não deu sossego, não deu chances. E o Brasil – este Brasil, pelo menos – depende muito das chances que os adversários lhe dão, porque criá-las, meu amigo, é um problema.
Faltou vontade? Não, não faltou. Os jogadores se esforçam, batalham, fazem um sacrifício danado. Mas é um sacrifício vão, porque é feito às cegas. Me lembra aquela sextilha clássica de Manuel Xudu: “Gosto de ver cem formigas / uma folha carregando. / Quarenta correndo em cima / sessenta em baixo puxando / e as quarenta ainda pensam / que também ‘tão ajudando”. Os jogadores brasileiros são um pouco como as quarenta formigas em cima da folha. Agitam-se incessantemente, e não sabem explicar o zero no resultado.
O Brasil só ameaçou quando, por volta dos 21 minutos do segundo tempo, deu duas estocadas rápidas, sucessivas, tocando a bola de primeira antes que os marcadores bolivianos fechassem em cima. No resto do jogo, o time ficou rodando e a Bolívia cercando. Vemos jogadores hábeis como Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Juan, Luís Fabiano, Diego, esbarrando uns nos outros e nos adversários, num jogo reduzido às dimensões de uma pelada no Aterro do Flamengo.
Não temam, amigos. Em hipótese alguma o Brasil deixará de se classificar para a Copa. São quatro vagas, e o quinto colocado ainda disputa uma repescagem. Chegaremos lá, mesmo assim, aos tropeções, aos pontapés, aos empates. Chegaremos porque há muitos interesses políticos, econômicos e publicitários envolvidos. Ninguém é doido de fazer uma festa e deixar de fora a estrela principal. Mas a Seleção ainda vai pagar muitos micos como o de quarta-feira passada, porque o propalado “futebol espetáculo” do Brasil, que tanto agrada a Galvão Bueno e aos contadores-de-vantagem, só acontece quando o adversário deixa. O técnico é limitado, a safra de jogadores é medíocre, a Seleção é fraca. E aqui pra nós, esse negócio de jogar no estádio do Botafogo não pode dar sorte a nenhum time que se preze.
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