quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

1705) Isak Dinesen (29.8.2008)




A baronesa Karen Blixen era uma nobre dinamarquesa que escrevia em inglês e publicava na Inglaterra sob o pseudônimo de “Isak Dinesen”. 

Hoje ela é conhecida por causa de dois filmes baseados em histórias suas: A Festa de Babette, história de uma ex-cozinheira francesa que prepara um banquete de agradecimento para as pessoas que a acolheram numa cidadezinha pesqueira de Dinamarca, e Entre Dois Amores (“Out of Africa”), interpretado por Meryl Streep e Robert Redford, que narra o período em que a baronesa administrou uma fazenda de café que seu marido possuía no Quênia. 

Acabei de ler Winter Tales, um volume com onze histórias escritas por Dinesen em plena maturidade. O livro foi traduzido aqui (Contos de Inverno, Ed. 34, 1993) e pode ser encontrado em sebos (www.estantevirtual.com.br). Não sei quem fez a tradução, mas espero que seja boa, porque uma das coisas mais saborosas desses contos é a prosa de Dinesen – um tanto solene, um tanto recitatória, sempre com imagens vívidas, diálogos enxutos e abertos a múltiplas leituras. Uma prosa de quem escreve numa língua estrangeira cuidadosamente estudada e longamente absorvida, como se dá com outros grandes autores (Conrad, Nabokov). 

A baronesa é uma dessas autoras que sabem contar histórias. Logo nas primeiras frases ela conduz o leitor como alguém que convida um conhecido a subir no carro, dizendo: “Vem comigo, aconteceu algo extraordinário, você precisa ver”. Alguns contos (“The Dreaming Child”, “Alcmene”) se voltam para crianças pobres que, por uma combinação de circunstâncias, ficam ricas; e das coisas estranhas que lhes acontecem a partir daí. 

A maioria das histórias ocorre nas últimas décadas do século 19 ou princípio do 20. Uma delas, “The Fish” é a recriação literária de um breve episódio das crônicas históricas da Dinamarca, ocorrido no século 13. Pelo menos um conto é claramente fantástico: “The Sailor Boy’s Tale”, em que o grumete de um navio comete sem querer um crime e é salvo por uma criatura sobrenatural. 

O que mais chama a atenção nos contos de Dinesen é que, embora visceralmente narrativos, não são daquelas histórias que conduzem a um final nítido, satisfatório, que esclarece tudo ou que recompõe a situação inicial em outros termos. Em alguns casos, é como se tivéssemos acesso a apenas três ou quatro episódios sucessivos de uma história muito maior. Percebemos o que acontece àqueles personagens, há uma certa impressão de desfecho, mas uma impressão também de que aquela história continua. (Indício, pelos meus critérios, de uma narração verdadeiramente realista, uma vez que na vida real nenhuma história se conclui por completo.) 

Dinesen gosta de jogar com duplas de personagens, mostrando cada um por dentro, por inteiro, e fazendo-nos ver o quanto eles se desconhecem, às vezes com conseqüências trágicas, como em “Peter and Rosa”. “O homem e a mulher,” diz ela, “são dois baús trancados, e dentro de cada um deles está a chave do outro”.






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