Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
1693) A síndrome de Truman (15.8.2008)
No filme O Show de Truman, de Peter Weir, Jim Carey é um rapaz que pensa viver uma vida normal, mas é o personagem de um gigantesco e caríssimo “reality show”. Desde bebê, Truman Burbank vem sendo criado por uma “família” de atores, num cenário montado pela emissora de TV que fatura com seu programa 24 horas no ar. Primeiro, numa casa, depois com uma creche, escola, rua, bairro, finalmente uma cidade cenográfica inteira, mantida no interior de uma cúpula, povoada em tempo integral por atores e figurantes que fingem viver uma vida normal.
A vida de Truman é acompanhada pelo mundo inteiro, graças aos milhares de câmaras instaladas em todos os pontos que ele freqüenta na cidade. É The Biggest Brother.
Não há quem não se comova com a crise por que passa Truman quando começa a perceber toda a encenação à sua volta. Como não ficaríamos, se soubéssemos que nossa vida inteira foi roteirizada por alguém, e que nossa esposa, nossos parentes, nossos amigos, são atores pagos para executarem um script, fazendo-nos crer que o mundo em que vivemos é real, e não uma cidade cenográfica? E que o mundo inteiro nos assiste, até quando vamos ao banheiro?
Pois este é o drama de alguns pacientes dos médicos Joel e Ian Gold, de Montreal. Todos são homens brancos, de 25 a 34 anos de idade, a maioria com nível universitário. No hospital canadense, eles confessaram aos psiquiatras o terror que sentiram ao perceberem a verdade.
“Minha família e todos os meus conhecidos” disse um deles “são atores cumprindo um roteiro, uma encenação cujo único propósito é me transformar no centro das atenções do mundo inteiro”. Diz outro, um veterano do exército: “Eu percebi que era, e sou, o foco de atenção de milhões e milhões de pessoas”. (Veja mais em: http://tinyurl.com/ydbrx6ph).
Todos nós vivemos momentos mal explicados, em que erros de continuidade parecem ocorrer de um dia para o outro. Ficamos murmurando: “Engraçado, eu poderia jurar que...”
Em outros momentos, parece que todo mundo (inclusive pessoas que não se conhecem entre si) querem nos induzir a proceder dessa ou daquela maneira; como se todos tivessem combinado um script em que somos um protagonista a ser influenciado.
O Dr. Ian Gold lembra que “o desejo de fama é uma forma de mania de grandeza, e o medo de estar tendo sua vida minuciosamente vigiada pode levar à paranóia”. Diz também que “os novos meios de comunicação estão abrindo novos espaços sociais, e eles podem estar interagindo com nossos processos psicológicos”.
Todo delírio mental toma formas oferecidas pela sociedade. Na Idade Média as pessoas imaginavam que eram raptadas por demônios; hoje em dia, afirmam que foram abduzidas por extraterrestres.
A mente individual fornece as tensões, as pulsões, a força irrefreável dos desejos e anti-desejos reprimidos; e a cultura onde vive essa pessoa fornece os enredos, os cenários e os personagens.
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