sábado, 20 de fevereiro de 2010

1679) O pensamento animal (30.7.2008)



(Sue Savage-Rumbaugh)

Cientistas vivem pesquisando (com verbas minguadas e pouco interesse da imprensa) a comunicação entre seres humanos e animais. É sintomático que a gente seja capaz de acreditar em “inteligência artificial”, algo produzido em laboratório com chips e fiação elétrica, e não se interessa pela inteligência de criaturas que convivem conosco há milhões de anos. Já defendi a necessidade de pesquisas para que pudéssemos nos comunicar com os macacos (http://mundofantasmo.blogspot.com/search?q=0095). Arrependo-me do modo impudente com que tratei nossos semelhantes, e temo que em poucas décadas, já alfabetizados, eles leiam aquela coluna e cuspam no meu túmulo.

Leio agora na New Scientist de 24 de maio que cientistas como Sue Savage-Rumbaugh, da Georgia State University (Atlanta) têm feito progressos notáveis na comunicação com os chimpanzés, principalmente os chamados chimpanzés-anões (“bonobos”). Os macacos já são capazes de entender centenas de palavras inglesas e mesmo frases de construção complexa. Não as repetem, porque seu aparelho fonador é diferente do nosso; mas entendem instruções, cumprem ordens. Diz a revista que “usando quadros com figuras, eles participam de conversas entre dois, três ou quatro interlocutores, entre humanos e macacos, falando sobre objetos, intenções, ações e estados de espírito”.

Os chimpanzés-anões são capazes de entender frases que contenham um verbo e três substantivos: “Pode levar o chocolate para a sala do meio?” Bonobos chegaram a inventar palavras compostas, reunindo “água” e “ave” para designar “pato”. Há um animal chamado Kanzi que é capaz de entender centenas de frases, como “mostre-me a bola”, “traga a figura com a cobra” ou “posso beliscar seu bumbum?”. A Dra. Savage-Rumbaugh cita uma ocasião em que ela entregou a Kanzi uma cenoura, pedindo-lhe que a colocasse na água. O chimpanzé jogou a cenoura pela janela. Ela achou que ele não tinha entendido, e repetiu o pedido. O chimpanzé apontou para fora: estava chovendo.

E não só chimpanzés. O mesmo artigo cita um papagaio chamado Alex, que foi estudado durante 20 anos numa universidade em Massachusetts. Alex conhecia as palavras que designavam mais de 50 objetos, sete cores e cinco formas geométricas. Entendia os números de 1 a 10, embora não soubesse contar em seqüência; e (o artigo afirma, mas não explica como) compreendia o conceito do zero, que mesmo para a humanidade demorou milhares de anos para surgir. Infelizmente, Alex morreu no ano passado.

Se dedicássemos a isto meros 10% do que dedicamos à informática (não que eu tenha nada contra ela!) talvez chegássemos a resultados surpreendentes. Dizemos que os animais não são inteligentes apenas porque eles não são inteligentes como nós, e nos maravilhamos com eles quando aprendem formas rudimentares de nossa apreensão do mundo. Não custaria nada tentarmos aprender um pouco o modo como eles próprios pensam, lembram, sentem, se comunicam.

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