Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
1679) O pensamento animal (30.7.2008)
(Sue Savage-Rumbaugh)
Cientistas vivem pesquisando (com verbas minguadas e pouco interesse da imprensa) a comunicação entre seres humanos e animais. É sintomático que a gente seja capaz de acreditar em “inteligência artificial”, algo produzido em laboratório com chips e fiação elétrica, e não se interessa pela inteligência de criaturas que convivem conosco há milhões de anos. Já defendi a necessidade de pesquisas para que pudéssemos nos comunicar com os macacos (http://mundofantasmo.blogspot.com/search?q=0095). Arrependo-me do modo impudente com que tratei nossos semelhantes, e temo que em poucas décadas, já alfabetizados, eles leiam aquela coluna e cuspam no meu túmulo.
Leio agora na New Scientist de 24 de maio que cientistas como Sue Savage-Rumbaugh, da Georgia State University (Atlanta) têm feito progressos notáveis na comunicação com os chimpanzés, principalmente os chamados chimpanzés-anões (“bonobos”). Os macacos já são capazes de entender centenas de palavras inglesas e mesmo frases de construção complexa. Não as repetem, porque seu aparelho fonador é diferente do nosso; mas entendem instruções, cumprem ordens. Diz a revista que “usando quadros com figuras, eles participam de conversas entre dois, três ou quatro interlocutores, entre humanos e macacos, falando sobre objetos, intenções, ações e estados de espírito”.
Os chimpanzés-anões são capazes de entender frases que contenham um verbo e três substantivos: “Pode levar o chocolate para a sala do meio?” Bonobos chegaram a inventar palavras compostas, reunindo “água” e “ave” para designar “pato”. Há um animal chamado Kanzi que é capaz de entender centenas de frases, como “mostre-me a bola”, “traga a figura com a cobra” ou “posso beliscar seu bumbum?”. A Dra. Savage-Rumbaugh cita uma ocasião em que ela entregou a Kanzi uma cenoura, pedindo-lhe que a colocasse na água. O chimpanzé jogou a cenoura pela janela. Ela achou que ele não tinha entendido, e repetiu o pedido. O chimpanzé apontou para fora: estava chovendo.
E não só chimpanzés. O mesmo artigo cita um papagaio chamado Alex, que foi estudado durante 20 anos numa universidade em Massachusetts. Alex conhecia as palavras que designavam mais de 50 objetos, sete cores e cinco formas geométricas. Entendia os números de 1 a 10, embora não soubesse contar em seqüência; e (o artigo afirma, mas não explica como) compreendia o conceito do zero, que mesmo para a humanidade demorou milhares de anos para surgir. Infelizmente, Alex morreu no ano passado.
Se dedicássemos a isto meros 10% do que dedicamos à informática (não que eu tenha nada contra ela!) talvez chegássemos a resultados surpreendentes. Dizemos que os animais não são inteligentes apenas porque eles não são inteligentes como nós, e nos maravilhamos com eles quando aprendem formas rudimentares de nossa apreensão do mundo. Não custaria nada tentarmos aprender um pouco o modo como eles próprios pensam, lembram, sentem, se comunicam.
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