Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
1670) Filmes de época (19.7.2008)
Andei revendo na TV um antigo filme de FC, Colossus 1980 – The Forbin Project, de Joseph Sargent. Nele, um cientista cria um supercomputador para cuidar da defesa anti-mísseis dos EUA, e este acaba tomando conta do mundo através do sistema de telecomunicações.
O filme é de 1970 e, é claro, sua visão da computação é típica dessa época. Colossus é o típico “Leviatã Cibernético” que aparece em tantos filmes: computadores gigantescos escondidos no interior de um montanha, eles próprios do tamanho de uma montanha feita de fios, transistores, etc.
Consultando alguns comentários on-line sobre o filme, percebi que vários críticos ironizavam esse aspecto. “O filme é muito datado”, diz um deles, “e mostra computadores que trabalham com fitas perfuradas!”. Ora, este é justamente um dos aspectos mais interessantes do filme: mostram o que era a imagem dos computadores em 1970.
E uma imagem bastante ancorada na realidade, porque li no Internet Movie Data Base que os computadores mostrados no filme são de verdade. Foram cedidos à produção pela Control Data Corporation, desejosa de amealhar um “merchandising” gratuito. Durante as filmagens foi preciso instalar uma enorme parafernália de ar condicionado para que os computadores trabalhassem de fato, sob a vigilância severa de técnicos e de guardas armados.
Os computadores evoluíram numa direção inesperada – miniaturização, multiplicação, acessibilidade, ligação em rede, etc. O mundo informático de hoje é muito diferente do de “Colossus”. Ainda assim, há semelhanças surpreendentes.
A certa altura, Colossus adquire consciência própria e decide retirar das mãos dos políticos todo o poder, para cuidar da humanidade segundo seus próprios critérios. O Dr. Forbin, seu criador, é mantido sob vigilância total, e há uma cena (extremamente 2008!) em que Forbin caminha pelos corredores do centro científico acompanhado por câmeras de segurança idênticas aos dos nossos atuais condomínios, e através delas e de seus microfones ele conversa com o computador.
Ver um filme de 30 anos atrás e reclamar que ele não parece com nossa época é uma bobagem. É como viajar para o Sri Lanka e reclamar que lá não tem comida brasileira. Se vamos tão longe é porque estamos em busca do diferente, e mesmo se encontrarmos o que nos é familiar devemos reconhecer a raridade desse encontro.
Um filme de 1950 nos revela, involuntariamente, inúmeras coisas sobre o ano em que foi feito, desde coisas mais superficiais (moda, roupas, carros, cabelo, etc.) até regras de comportamento hoje em desuso, preconceitos, ingenuidades, etc.
Todo filme é involuntariamente realista, sempre que lança mão do que parece consensual e concentra suas atenções naquilo que se propõe a inventar. É justamente no que não se propõe a inventar, no que copia para não perder tempo, que filmes assim nos dão o retrato de sua época. São filmes datados, sim. Por isso vale a pena vê-los.
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