Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
1665) Parabéns, Vasco da Gama (13.7.2008)
Uma das melhores notícias recentes no futebol brasileiro foi a eleição de Roberto Dinamite para presidente do Vasco. Dinamite impôs uma derrota substancial ao grupo chefiado por Eurico Miranda, que há vinte e tantos anos se apossou do clube de São Januário com a mesma cara-de-pau com que Saddam Hussein havia se apossado do Iraque, e com a mesma “legitimidade” com que o presidente Mugabe vem se perpetuando no Zimbábue. Eu vejo os problemas vascaínos à distância, sem esquentar a cabeça. Já que eu torço pelo Flamengo, eles que são vascaínos que se entendam. Mas acima de Flamengo sou um esportista, e não gosto de ver um clube tradicional brasileiro, adversário ou não, sendo seqüestrado por uma quadrilha de aproveitadores.
O Vasco é um clube diferente de todos os outros do Rio. É o mais popular dos clubes cariocas. Bem sei que a torcida do Flamengo é a mais numerosa, mas o Vasco é popular pela sua origem e sua história, mesmo tendo surgido, paradoxalmente, como um clube que representava a colônia portuguesa. Dos quatro grandes clubes do Rio, o Vasco é o único sediado na Zona Norte (seu estádio é em São Januário, a pouca distância da nossa nordestiníssima Feira de São Cristóvão). Flamengo, Fluminense e Botafogo são clubes enraizados e estabelecidos na Zona Sul. Por outro lado, o Vasco foi o primeiro clube do Rio a permitir que negros jogassem em suas equipes, numa época em que o Fluminense, por exemplo, fazia com que os jogadores mulatos passassem pó de arroz no rosto para poderem entrar em campo, o que deu origem ao apelido tradicional.
Do ponto de vista sociológico, o Vasco é um clube parecido com o Treze, e os demais são, por suas origens, “clubes cartolas” muito semelhantes ao Campinense. (Algum engraçadinho virá me perguntar por que então eu não torço pelo Vasco. A resposta é que a gente não escolhe essas coisas sociologicamente. São afinidades eletivas, paixões sem arrazoado ou justificação.) Por isso festejo a saída de Eurico Miranda e sua quadrilha, embora saiba que isso provavelmente irá fortalecer o Vasco como clube e como time adversário.
Por que motivo sujeitos como Eurico Miranda se instalam e se perpetuam num clube? Resposta: porque a massa anônima gosta de caudilhos. Eurico brigava com todo mundo em nome do Vasco, e isso é tudo que a massa queria ver. Eurico é o protótipo do caudilho nacionalista, a meio caminho do fascismo, que beija chorando a bandeira, grita que dará a vida por ela, e faz a multidão delirar. A multidão não quer bons administradores, quer um torcedor no poder. Não importa se ele é ladrão ou criminoso, desde que seu amor pela bandeira seja visivelmente sincero, pois é esse amor que o une à multidão. “É um dos nossos,” suspira aliviado o torcedor, e vai dormir em paz. Pois bem, amigos vascaínos, Roberto Dinamite também é um de vocês, sobre isso não há dúvidas. Ele que arrume a casa, equilibre as contas, reforme o time... e pode vir quente que eu estou fervendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário