Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 23 de janeiro de 2010
1559) Os times domésticos (12.3.2008)
(alguém sabe o autor desta foto?...)
“Jogar em casa” é um fator importante no futebol. Por isso mesmo foi estabelecido o critério do mando de campo, e os campeonatos geralmente se organizam de tal maneira que os clubes se enfrentam duas vezes, uma na casa de A, outra na casa de B. É bom para qualquer time jogar no gramado que lhe é familiar, com o apoio de sua torcida, etc.
Quem acompanha o futebol sabe que num confronto entre um time grande e um time pequeno o time pequeno só tem alguma chance quando joga em seu próprio campo. São os chamados “alçapões”. No futebol da Paraíba, no tempo em que eu viajava para acompanhar jogos do Treze, lembro do calafrio de medo que nos acometia nos domingos de manhã quando pegávamos a estrada para enfrentar os times de Patos no Estádio José Cavalcanti, ou o Guarabira no Estádio Sílvio Porto. Meu time, que era no caso o time grande, já teve derrotas catastróficas nesses “alçapões”, e já teve vitórias consagradoras. Jogar no campo do adversário mobilizava todas as nossas energias, toda a nossa concentração. Equivalia a jogar um clássico.
No futebol de hoje em dia os times grandes estão cada vez mais pequenos. Cito como exemplo outro clube meu, o Flamengo, que está se tornando um time doméstico, um timeco, um timinho sem força moral, que só é capaz de derrotar um adversário quando joga no seu alçapão. Não importa se no caso é O Maior Alçapão do Mundo, o Maracanã. O critério é o mesmo. Não sou capaz de lembrar, nestes anos mais recentes, uma só vitória consagradora do Flamengo no campo do adversário.
Nesta Taça Libertadores da América, que mal começou, ficou bem claro que o Flamengo (e aqui incluo dirigentes, comissão técnica, jogadores) é um time medroso, um time nervoso e inseguro quando está longe do colo acolhedor de sua torcida. Ah, que diferença do Flamengo de Zico, de Nunes, de Rondinelli, de Júnior e tantos outros que iam pra cima, encaravam, batiam peito com peito com o adversário, naquela atitude de “Que foi que viu, véi?!” O Flamengo foi enfrentar o amadoríssimo Coronel Bolognesi no Peru, e jogou recuado o tempo inteiro contra o pior time da chave (e um dos piores do século), garantindo o empate com a desculpa de “a gente empata aqui, e ganha no Maracanã”.
Semana passada, o Fla foi enfrentar o Nacional em Montevidéu e deu um show de nervosismo, de desorientação. Teve dois jogadores expulsos, levou gols bobos, e saiu de campo dizendo: “No Maracanã vamos jogar com nossa torcida e reverter esse resultado”. Me dá uma vontade de cair de joelhos e cobrir a cabeça de terra e cinza. A primeira característica de um time pequeno é se apequenar quando fica entregue a si próprio. Pra quem conheceu o Flamengo em outras épocas, essas festas dos últimos meses no Maracanã são bonitas, mas são um péssimo sinal. Significam que nosso time espera que nós ganhemos o jogo, porque ele não ganha de ninguém quando é entregue a si mesmo. A gente é o Olaria do século 21.
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