sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

1553) A arte de ser invisível (5.3.2008)




Em O homem invisível, H. G. Wells produziu a primeira explicação científica para a invisibilidade, que até então a literatura produzia através de encantamentos, poções mágicas, etc. 

Wells sugeriu algo como de uma vibração imposta às moléculas do corpo, fazendo com que a luz as atravessasse sem ser perturbada. O homem invisível, porém, não poderia enxergar, pois a luz atravessaria seu globo ocular sem produzir os reflexos necessários à visão. Ele nem vê nem é visto.

Wells pretendia apenas explorar as aventuras de um homem que descobre mais problemas do que vantagens na invisibilidade. Em primeiro lugar, ele tem que andar nu, pois sua invisibilidade não se transfere para as roupas – e andar nu pelas calçadas, no inverno londrino, não é uma experiência das mais agradáveis. Ajuda a praticar pequenos furtos (embora todo mundo saia à perseguição daquela fruta ou daquele maço de notas que parece ir flutuando pelo ar). 

Mas andar na calçadas implica num esbarrão atrás do outro, pois ninguém o vê; descendo para o meio da rua ele corre o risco de ser atropelado. Para poder fazer as tarefas mais comuns, o homem invisível resigna-se a vestir roupa, capote, chapéu, óculos escuros, e a cobrir o rosto com bandagens.

Alguns animais resolvem o problema misturando-se às cores e formas do ambiente onde vivem. O camaleão é o exemplo mais conhecido, mas há insetos que são indistinguíveis de uma pedrinha, de um talo de capim, de um galhinho seco. 

É uma invisibilidade virtual, porque o inseto continua a ser visto, mas como sua imagem se confunde com o que há à sua volta, o observador não consegue fazer a distinção entre forma e fundo, e não percebe a sua presença.

A literatura policial explorou o conceito da invisibilidade psicológica para fazer com que um criminoso fugisse do local do crime sem ser percebido. 

Numa das histórias de G. K. Chesterton com o detetive Padre Brown, um crime é cometido num sofisticado clube londrino, durante um banquete. A investigação se concentra nas idas e vindas dos convidados e dos garçons. No final, o Padre Brown demonstra que o assassino entrou na sala como convidado e saiu como garçon. Como? Mudando a postura e o andar, uma vez que todos estavam vestidos de black-tie. Entre um grande número de indivíduos com trajes iguais, as testemunhas viram entrar na sala um sujeito empertigado, passo firme, ar autoritário, e, minutos depois, viram sair de lá um sujeito de olhos baixos, pisando de leve, com uma bandeja na mão. Jamais imaginariam que fosse a mesma pessoa.

Outro conto de Chesterton, “O homem invisível”, trata de um crime semelhante. Ninguém viu o assassino sair da casa. Depois de muitos interrogatórios, o Padre Brown vê em cima da mesa algumas cartas com carimbo daquela data, e pergunta quem as trouxe. “Ora, foi o carteiro!” O carteiro era o homem invisível. Todos o viram entrar e sair (era ele o criminoso) mas ninguém registrou sua presença.





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