quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

1546) Flamengo 2x1 Botafogo (26.2.2008)


(Diego Tardelli)

Alguns leitores (todos vascaínos) queixam-se da freqüência com que falo do Flamengo nesta coluna. (Vou comentar o quê, então? A derrota do Treze para o Campinense?!) Amigos, não gosto de fazer gozações com os perdedores, porque acho que a derrota já põe as coisas em pratos limpos – ganha quem pode, cala quem tem juízo. Também não estou querendo rivalizar com os coleguinhas do caderno esportivo, que analisam a postura tática das equipes, o desenrolar do jogo, os erros e acertos da arbitragem, etc. Meu propósito é extrair de alguns aspectos de um jogo de futebol alguma lição simbólica ou metafísica que nos ensine algo sobre o propósito da vida humana ou sobre o real funcionamento do Universo.

O jogo de domingo passado, se não foi um primor de técnica, foi um desses jogos de matar de sede o torcedor – o cara tem medo de ir pegar a cerveja na geladeira, porque se sair pode perder um lance decisivo. Aos 13 minutos o Flamengo criou uma jogada pela esquerda com Juan e Ibson, e a bola foi rolada para trás, na entrada da área, onde apareceu nosso bravo volante Jailton e a mandou para o Espaço Sideral, quase derrubando de novo o satélite defeituoso que os EUA abateram dias atrás. Jailton é apenas o símbolo de uma geração inteira: os Destruidores do Futebol, jogadores especializados em bloquear, marcar, atrapalhar, esbarrar, segurar, calçar, empurrar, derrubar. Os técnicos adoram esses jogadores, que chamam de “cães de guarda”. São eles que deixaram o futebol brasileiro do século 21 igualzinho ao futebol alemão do século 20.

Segundo exemplo: o pênalte marcado a favor do Flamengo. Todo mundo viu o zagueiro do Botafogo puxando para cima a camisa do jogador do Fla. Derrubou-o, desequilibrou-o, impediu-o de fazer um gol? Nem por sombras. E, como disse o pessoal da TV, na mesma hora havia meia-dúzia de jogadores de ambos os times puxando a camisa uns dos outros, naquela promiscuidade equívoca que precede os escanteios. O juiz poderia ter marcado falta a favor do Botafogo. Dar o pênalte ao Flamengo foi aquilo que eufemisticamente chamamos de “decisão de foto íntimo”.

Terceiro: o golaço marcado aos 46 minutos por Diego Tardelli, jogador com que não simpatizo nem um pouco. Pelo que já li na imprensa, acho-o farrista, irresponsável, pretensioso. Não importa: o gol foi de uma calma, uma lucidez e uma perfeição técnica admiráveis. Quarto: a cabeçada na trave que um jogador do Botafogo deu no último segundo da partida (e quando a defesa do Fla rebateu para longe, o juiz encerrou o jogo, porque seguro morreu de velho).

São esses pequenos detalhes – erros, acertos, falhas, faltas de sorte – que decidem a maioria dos jogos de futebol. O Fla levou um gol quando dominava; virou o jogo quando o Botafogo se apavorou; foi salvo pela trave. Nem vi a entrega da Taça, fui beber alguma coisa. Jogo bom é o que você tem medo de sair da frente da TV, porque “tudo agora mesmo pode estar por um segundo”.

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