Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
1542) As mães inocentes (21.2.2008)
No Almanakito que remete regularmente para seus leitores, a jornalista Maria do Rosário, sob o título “Mães Inocentes”, compara os filmes O Gangster de Ridley Scott e Meu Nome não é Johnny de Mauro Lima, dizendo: “A mãe do personagem de Denzel Washington sai da pobreza, com os filhos, para viver numa mansão cinematográfica. Desfruta de todo o luxo do mundo, sem problemas. Quando a coisa pega, ela dá sermão no filho: não mate polícia, nunca perguntei de onde você tira seu dinheiro (quer dizer que ela não sabia que o filho era traficante de heroína trazida do Leste asiático em caixões de soldados norte-americanos?????). No filme brasileiro, a personagem de Julia Lemmertz ganha jóia cara do filho e não desconfia que ele está arrumando dinheiro "fácil" com tráfico de drogas. No cinema, "mãe é mãe", né??”
No caso da mãe do americano Frank Lucas, eu me atrevo a supor (sem nenhuma informação além do filme, confesso) que a situação na vida real era muito diferente. A mãe não era cega nem boba, e sabia que o filho ganhava um milhão de dólares por dia vendendo heroína. Na cena em que ele pega numa arma para ir atrás dos policiais corruptos que invadiram sua casa, a matriarca, que é esperta, chama o filho à realidade. Vender droga é uma coisa, matar policial é outra muito diferente.
Quanto à mãe do personagem interpretado por Selton Mello no filme brasileiro, imagino (sem base, mais uma vez) que era assim mesmo, tintim por tintim. O filho dava festas toda noite para 30 ou 40 pessoas, e a mãe não sabia de onde vinha o dinheiro. Separada do marido, foi embora de casa e perdeu o interesse por tudo. O filho lhe dava jóias caras e certamente a sustentava. Para ela, provavelmente era mais cômodo limitar-se a saber que João “trabalhava com vendas”. Quando a gente tem medo da resposta, é melhor nem fazer a pergunta. “É o meu guri...”
Algumas mães são inocentes por excesso de afeto. Outras, por limitações mentais ou de informação – simplesmente não entendem o mundo em que os filhos vivem. Este é parcialmente o caso da mãe de João Estrela no filme. Fazer esse tipo de comentário sobre um filme inspirado em pessoas reais, e que ainda estão vivas, é sempre arriscado. Mas, levando em conta exclusivamente o que é mostrado no filme, a personagem de Julia Lemmertz é do tipo que prefere não saber. O filho está bem, vive atarefado, mantém a casa, tem uma bela namorada, centenas de amigos, dá festas de arromba, dá-lhe jóias de presente... Perguntar, pra quê? Se o filho fosse um fracassado, vivesse deprimido, jogado em cima de um sofá, sem emprego, sem conhecidos, somente vendo TV e tomando Coca-Cola, ela provavelmente cairia em cima dele com um-quente-e-dois-fervendo, no velho discurso do “vai trabalhar, vagabundo”. Mas sucesso não se questiona. Dinheiro é dinheiro. Como diziam os romanos, “pecunia non olet”, “dinheiro não fede”. Se dinheiro sujo fedesse, a Suíça já tinha sido interditada pela Organização Mundial de Saúde.
Sabe, uma das últimas frases em que se fala sobre o fracasso como é entendido é uma descrição do que sou agora e que para minha mãe isso é imperdoavel para alguém jovem e produtivo como eu não ter esse sucesso que a maioria chama de sucesso.
ResponderExcluirInfelizmente criou-se uma mentalidade de que ter sucesso é ter dinheiro. Claro que eu quero que meus filhos ganhem dinheiro, sejam independentes e parem de me dar despesa! :-))) Mas se a pessoa é realmente produtiva vai se encaixar mais cedo ou mais tarde. Meus pais tinham essa mesma preocupação comigo: "Você tem tanto potencial..." Se correr atrás, algo aparece.
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