segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

1535) As línguas que morrem (13.2.2008)



Morreu há poucos dias, no Alasca, Marie Smith Jones, uma mulher de 89 anos que era a última falante nativa da língua “eyak”. Com ela, morreu o idioma em que foi criada. Ao que parece, a língua eyak foi sendo substituída aos poucos pelo “tinglit”, outra língua nativa, e pelo inglês após o início da colonização dos EUA. O número de línguas ameaçadas de extinção é grande. São populações cada vez menores e mais idosas apegando-se à língua que aprenderam na infância, sem ter como passá-la adiante.

Alguém pode se perguntar por que motivo Marie Smith não passou o idioma eyak para seus filhos. A resposta mais óbvia é que um indivíduo não pode conhecer a totalidade de uma língua. Quem sabe a língua é uma comunidade. Uma língua não é apenas uma lista de palavras e um conjunto de regras, é uma forma de relacionamento entre as pessoas, e se as pessoas deixam de se relacionar dessa forma e preferem outras, a língua vai sumindo, por desuso.

Certas línguas são colocadas em segundo plano por um idioma nacional unificador, mas nem por isso deixam de existir. Um exemplo bem claro é o da Espanha, onde o castelhano é o primeiro idioma obrigatório de todos, mas ainda assim o catalão continua a ser ensinado e praticado na Catalunha, e o basco no chamado” País Basco” no norte do país. Estas línguas secundárias são ensinadas nas escolas, faladas pelas crianças; publicam-se livros e jornais escritos nessa língua, e para aquelas populações manter vivo o idioma de seus avós é uma questão de auto-estima.

Uma língua que vive morrendo e ressuscitando é o córnico (“Cornish”), falado na região da Cornualha, a sudoeste da Inglaterra. Há registros de que a última pessoa a praticá-la morreu em 1777, mas havia (ao que parece) registros escritos e cem anos depois havia um pequeno grupo de pessoas tentando botar o idioma em funcionamento outra vez.

Quem descreve com clareza a dificuldade de um tal processo é Geoffrey Pullum, num “post” que pode ser lido em: http://itre.cis.upenn.edu/~myl/languagelog/archives/001783.html. Diz ele: “Permitam-me recordar o que é necessário para que um idioma possa ser considerado vivo: deve haver crianças que falem nessa língua umas com as outras porque é a sua única língua, ou a sua língua favorita. Crianças que falariam assim mesmo que isto lhes fosse proibido. Não basta que haja uma comunidade de adultos que aprenderam esse idioma em livros e que se reúnem todas as terças-feiras à noite na casa de alguém para ler textos em voz alta. (...) Faça uma pesquisa à sua volta, perguntando quem são as pessoas mais jovens que usam uma determinada língua em suas conversas e interações da vida diária. Se a idade mínima dessas pessoas for cinco anos, esse idioma provavelmente está morrendo. Se for mais de dez anos, ele provavelmente está condenado. Se for mais de vinte, pode dar-lhe adeus. Nenhuma revalorização nostálgica será capaz de mantê-lo vivo por mais uma geração”.

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