Parece não haver duas coisas mais distantes do que o mundo sofisticado e intelectual dos praticantes da Arte Conceitual e o mundo banal, popularesco e raso dos livros de auto-ajuda. Ainda assim, certas obras de arte conceitual podem ser chamadas “vanguarda de auto ajuda”. Muitos críticos irreverentes vêem desta forma algumas obras da artista Yoko Ono, a viúva de John Lennon. Na exposição que está em cartaz no CCBB de São Paulo, Yoko tem obras como “Cleaning Piece”, em que ela nos instrui: “Faça uma lista de todas as coisas que o magoaram. / Faça uma pilha de pedras, cada pedra correspondendo a um item da lista. / Quando terminar, queime a lista, e aprecie a beleza do monte de pedras. / Depois, faça uma lista de suas alegrias, e repita o processo”. Outras instruções são mais metafísicas, como “Voe”, ou “Olhe para o sol até que ele fique quadrado”.
Uma que me interessou em especial foi “On Ownership IV”, que diz mais ou menos: “Observe uma foto neste livro. Escolha um lugar que lhe agrada. Declare-se possuidor desse lugar, e comunique o fato aos seus amigos. Visite o lugar com freqüência, e traga pessoas consigo. Mantenha o lugar limpo e arrumado. Todos os anos, mande cartões postais aos seus amigos, lembrando a eles que aquele lugar lhe pertence. Faça estudos históricos e geográficos sobre aquele lugar. Distribua materiais relativos àquele lugar entre as pessoas de quem você gosta”.
O interessante dessa proposta é que o tal “lugar” não é definido com clareza. Pode ser um banco de praça. Pode ser um poste de luz numa rua, uma porta de um prédio, um trecho de calçada. Pode ser uma árvore. Pode ser a Torre Eiffel ou o Pão de Açúcar. Tudo que importa é o fato de você se considerar mentalmente responsável por ele, e passar a cultivar com ele uma relação pessoal. É claro que muita gente não vai reconhecer você como proprietário (digamos) do Teatro Municipal ou da Ponte Rio-Niterói, mas isto não impede que você se aproprie deles. Basta saber exercer essa relação de posse de uma maneira cuidadosa, que não chame a atenção, e sem fazer nenhum gesto despropositado – como, por exemplo, proibir o acesso de outras pessoas, ou querer levar para casa partes significativas do “logradouro” escolhido.
A Arte Conceitual cria essas possibilidades aos exagerar a importância do receptor da obra artística, ou seja, do público. Em vez de ser um simples apreciador dos filmes e da arquitetura da Cinemateca do MAM, por exemplo, eu posso me considerar proprietário dela, e desenvolver uma relação simbólica muito mais intensa do que a de um mero espectador. Como sei que minha posse pode ser questionada, e não sou bobo, não vou interferir na programação ou na administração da Cinemateca. Mas vou lá de vez em quando, pago meu ingresso (claro!), verifico se está tudo bem, volto para casa satisfeito. E me torno eternamente responsável por aquilo que me cativa.
Uma que me interessou em especial foi “On Ownership IV”, que diz mais ou menos: “Observe uma foto neste livro. Escolha um lugar que lhe agrada. Declare-se possuidor desse lugar, e comunique o fato aos seus amigos. Visite o lugar com freqüência, e traga pessoas consigo. Mantenha o lugar limpo e arrumado. Todos os anos, mande cartões postais aos seus amigos, lembrando a eles que aquele lugar lhe pertence. Faça estudos históricos e geográficos sobre aquele lugar. Distribua materiais relativos àquele lugar entre as pessoas de quem você gosta”.
O interessante dessa proposta é que o tal “lugar” não é definido com clareza. Pode ser um banco de praça. Pode ser um poste de luz numa rua, uma porta de um prédio, um trecho de calçada. Pode ser uma árvore. Pode ser a Torre Eiffel ou o Pão de Açúcar. Tudo que importa é o fato de você se considerar mentalmente responsável por ele, e passar a cultivar com ele uma relação pessoal. É claro que muita gente não vai reconhecer você como proprietário (digamos) do Teatro Municipal ou da Ponte Rio-Niterói, mas isto não impede que você se aproprie deles. Basta saber exercer essa relação de posse de uma maneira cuidadosa, que não chame a atenção, e sem fazer nenhum gesto despropositado – como, por exemplo, proibir o acesso de outras pessoas, ou querer levar para casa partes significativas do “logradouro” escolhido.
A Arte Conceitual cria essas possibilidades aos exagerar a importância do receptor da obra artística, ou seja, do público. Em vez de ser um simples apreciador dos filmes e da arquitetura da Cinemateca do MAM, por exemplo, eu posso me considerar proprietário dela, e desenvolver uma relação simbólica muito mais intensa do que a de um mero espectador. Como sei que minha posse pode ser questionada, e não sou bobo, não vou interferir na programação ou na administração da Cinemateca. Mas vou lá de vez em quando, pago meu ingresso (claro!), verifico se está tudo bem, volto para casa satisfeito. E me torno eternamente responsável por aquilo que me cativa.
olá...
ResponderExcluiras vezes me pergunto se ainda estamos na época da ditadura..
só que camulfados ..srsrs...
bom trabalho e ótimo post.
abraço.