quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

1516) “Across the Universe” (22.1.2008)


Os beatlemaníacos andam soltando pistolas-de-3-tiros à saída deste filme, em cartaz no Rio e São Paulo. É mais uma tentativa de fazer um semi-musical com trilha sonora totalmente extraída do repertório dos Beatles. O roteiro tem um fiapo de história: um rapaz das docas de Liverpool, chamado Jude, viaja aos EUA à procura de seu pai, marinheiro americano que engravidou sua mãe durante a guerra e voltou para a América sem saber do filho. Chegando aos EUA, Jude fica amigo de um rapaz chamado Maxwell e sua irmã Lucy. Vão morar em Nova York e formam ali um grupo de amigos que incluem a oriental Prudence, o guitarrista negro Jo-Jo, e a cantora e dona da pensão onde vivem, a cantora Sadie. Assim, personagens das canções dos Beatles vão sendo introduzidos aos poucos. E as canções se sucedem, algumas sendo meramente ilustradas pela ação, como num clip pouco imaginativo, outras com riqueza de produção, outras com interessantes releituras.

O grupo de amigos vive os anos 1960: os protestos contra a Guerra do Vietnam, o movimento estudantil sendo reprimido pela polícia, a morte de Martin Luther King, o começo da cultura psicodélica das drogas e das roupas em cores berrantes. E de dois em dois minutos uma canção dos Beatles emerge, muitas vezes em circunstâncias inesperadas. O filme é um longo jogo de reconhecimentos e de pequenas surpresas. Como os arranjos são, muitas vezes, diferentíssimos da gravação original, quando as canções começam só as identificamos quando o primeiro verso é cantado – e perpassa pela platéia do cinema um sussurro de risos deliciados, de pequenas exclamações de surpresa, um murmúrio de quem reencontra algo querido e remoto.

Algumas encenações são mais elaboradas: animação e coreografia em “I Want You”, efeitos psicodélicos em “I am the Walrus” (cantada por Bono Vox no papel de um tal Dr. Robert), animação e efeitos circenses em “Being for the benefit of Mr. Kite”. “Strawberry Fields Forever”, superposta a cenas das selvas do Vietnam ganha uma pungência imprevista. Curiosamente, as canções relativas aos nomes dos personagens não são cantadas, mas ficam como um subtexto possível, uma elipse que os enriquece.

É um bom filme? Assim, assim. Como obra de cinema nada traz de novo, e seus picos de originalidade atingem apenas o nível de coisas já vistas em filmes anteriores. Talvez possamos definir o filme como uma “fan-fic” (ficção escrita pelos fãs de um artista), uma homenagem, uma curtição entre correligionários. Se o indivíduo não conhece os Beatles, vai achar o filme confuso e meio despropositado em muitos detalhes. Se não gosta dos Beatles... passe por longe, companheiro, e seja feliz. E há aqueles que, por mais cinéfilos que sejam, por mais fiéis aos sisudos ditames da Arte Das Imagens Luminosas em Movimento, já prometeram silenciosamente a si mesmos assistir de novo, comprar o CD da trilha, saborear o DVD.

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