O filme canadense The Corporation já entrou por antecipação na minha lista dos Melhores de 2005. É um documentário político ao estilo dos de Michael Moore (que aliás é um dos entrevistados), sem nada de mais em termos de narrativa, parecendo um daqueles especiais da TV a cabo; e é longo (145 minutos).
Por que um dos “melhores”, então? Pelo simples fato de que as idéias que discute são tão importantes para o mundo e a humanidade que pouco me importam essas besteiras de estilo ou narrativa. Quando você está com uma doença grave e o médico lhe passa um remédio, você não fica discutindo a caligrafia dele.
The Corporation discute o papel que as megacorporações capitalistas desempenham no mundo de hoje.
The Corporation discute o papel que as megacorporações capitalistas desempenham no mundo de hoje.
Poluição desenfreada e impune do meio-ambiente. Perseguição e chantagem contra a imprensa. Exploração desumana da mão-de-obra dos países pobres. Propaganda enganosa para disfarçar produtos nocivos à saúde do consumidor. Hoje, estas corporações estão patenteando microrganismos e seqüências de genoma, e os usarão no futuro com a mesma sem-cerimônia com que hoje usam cancerígenos.
Alguns episódios são mostrados em detalhe, como o apoio logístico da IBM aos campos de extermínio nazistas e a guerra dos bolivianos para impedir que a água do país fosse privatizada (era proibido até mesmo juntar água da chuva).
O ponto de partida do filme é algo tão absurdo que parece coisa de Woody Allen. Na década de 1880, a Suprema Corte dos EUA promulgou (através da 14a. emenda) uma série de direitos individuais que visavam favorecer os ex-escravos libertos. Com uma filigrana jurídica, advogados das corporações fizeram a Corte considerá-las “pessoas” jurídicas, e garantir a elas os direitos concedidos aos ex-escravos. Ou seja: elas estavam livres para fazer o que bem entendessem, porque eram “pessoas”.
O ponto de partida do filme é algo tão absurdo que parece coisa de Woody Allen. Na década de 1880, a Suprema Corte dos EUA promulgou (através da 14a. emenda) uma série de direitos individuais que visavam favorecer os ex-escravos libertos. Com uma filigrana jurídica, advogados das corporações fizeram a Corte considerá-las “pessoas” jurídicas, e garantir a elas os direitos concedidos aos ex-escravos. Ou seja: elas estavam livres para fazer o que bem entendessem, porque eram “pessoas”.
É o mesmo que soltar um tubarão na piscina do Sesc. Entre 1890 e 1910 esta lei foi invocada 307 vezes: 19 por ex-escravos, 288 por corporações.
Daí, o filme faz a pergunta: Que tipo de pessoa é esta? E faz um diagnóstico passo-a-passo provando que, se fosse uma pessoa, a Corporação seria um perigoso psicopata. Visando apenas os próprios objetivos. Sem se preocupar com a segurança ou a vida alheia. Sem experimentar sentimentos de medo, culpa ou remorso. Sem reconhecer responsabilidades para com ninguém ali de si própria.
Daí, o filme faz a pergunta: Que tipo de pessoa é esta? E faz um diagnóstico passo-a-passo provando que, se fosse uma pessoa, a Corporação seria um perigoso psicopata. Visando apenas os próprios objetivos. Sem se preocupar com a segurança ou a vida alheia. Sem experimentar sentimentos de medo, culpa ou remorso. Sem reconhecer responsabilidades para com ninguém ali de si própria.
O problema de tratar as corporações como pessoas, diz o filme, é que elas não têm nem corpo nem alma, não podem ser condenadas nem ao inferno nem à cadeia.
As corporações podem ser dirigidas por bons indivíduos, como reconhece Noam Chomsky, um dos entrevistados. O problema é que elas têm (como a própria Lei estabelece e de certo modo obriga) a finalidade de produzir lucros, e passam por cima de quaisquer outras considerações. E os que nelas trabalham acabam se safando com o velho argumento (quem nunca o usou, camaradas, atire a primeira pedra): “Eu estava apenas fazendo meu trabalho”.
As corporações podem ser dirigidas por bons indivíduos, como reconhece Noam Chomsky, um dos entrevistados. O problema é que elas têm (como a própria Lei estabelece e de certo modo obriga) a finalidade de produzir lucros, e passam por cima de quaisquer outras considerações. E os que nelas trabalham acabam se safando com o velho argumento (quem nunca o usou, camaradas, atire a primeira pedra): “Eu estava apenas fazendo meu trabalho”.