Num universo alternativo, talvez abríssemos o jornal para ler que o famoso clarinetista de jazz Woody Allen costuma relaxar nos fins de semana dirigindo pequenos filmes com sua câmera digital, usando os amigos como atores. Virando a página, leríamos uma entrevista do artista plástico Carlos Alberto Parreira, recém-chegado de sua exposição individual em Florença, dizendo que o futebol é sua paixão secreta e estava treinando um time amador do Rio. Interrogados por um repórter, eles poderiam comentar: “Pois é, mas essa outra atividade é o meu violão de Ingres”.
Esta expressão francesa surgiu, ao que se diz, pelo fato de que o pintor Ingres costumava tocar violão nas horas vagas, para relaxar, para desopilar (eita verbozinho horroroso). A pintura era seu ofício, sua profissão, a atividade na qual ele se sentia submetido às maiores pressões e às maiores cobranças. Dele todo mundo esperava sempre a próxima obra-prima. Mas quando sentava no terraço e sobraçava o violão, mestre Ingres ficava por ali, sem compromisso, bebericando um bordô e cantando seu “Frère Jacques”, ou sei lá que músicas se podia cantar ao violão na França do século 19.
Todo mundo precisa de uma atividade paralela feita à sombra, longe da atenção do público. Advogados que desenham, médicos que escrevem romances policiais, políticos que jogam golfe, futebolistas que tocam cavaquinho, professores que fazem teatro... Todo mundo precisa dessas duas coisas: uma profissão e um hobby. Ingres certamente não tocava violão tão bem quanto Paulinho Nogueira ou Luís Cambeba, mas tocava por puro e simples prazer, sem se sentir com a menor obrigação de ser um craque como eles. Einstein não tocava violino? Richard Feynman não tocava bongô?
O ideal seria fundir as duas coisas, porque muitas vezes a profissão oficial do indivíduo é cumprida a contragosto – pelo dinheiro, por um senso de obrigação social, ou porque o cara já criou para si todo um círculo profissional do qual não consegue escapar. Mas ser bem pago para fazer o que mais gosta é algo que qualquer indivíduo colocaria, em princípio, como um objetivo de vida.
Ingres, por exemplo. Um dos seus quadros mais famosos é “A Banhista”, uma mulher seminua, de costas, sentada na beira de uma cama. O surrealista Man Ray criou uma foto retocada intitulada “O Violão de Ingres”, um brilhante trocadilho visual com tudo que comentei acima. (Ver em: http://angesetdemons.canalblog.com/images/violon_ingres.jpg. Ele mostra uma mulher nua, numa posição semelhante à da modelo de “A Banhista”, tendo desenhadas nas costas aquelas aberturas sinuosas em forma de “S” alongado que existem nos violinos, violoncelos e outros tipos de instrumentos de cordas, e que servem como uma espécie de guelras para a respiração sonora do instrumento. Um corpo em forma de violão; a mulher, a pintura, a fotografia e a música fundidas numa imagem única, onírica, absurda mas atraente, síntese inalcançável dos desejos contraditórios.
Esta expressão francesa surgiu, ao que se diz, pelo fato de que o pintor Ingres costumava tocar violão nas horas vagas, para relaxar, para desopilar (eita verbozinho horroroso). A pintura era seu ofício, sua profissão, a atividade na qual ele se sentia submetido às maiores pressões e às maiores cobranças. Dele todo mundo esperava sempre a próxima obra-prima. Mas quando sentava no terraço e sobraçava o violão, mestre Ingres ficava por ali, sem compromisso, bebericando um bordô e cantando seu “Frère Jacques”, ou sei lá que músicas se podia cantar ao violão na França do século 19.
Todo mundo precisa de uma atividade paralela feita à sombra, longe da atenção do público. Advogados que desenham, médicos que escrevem romances policiais, políticos que jogam golfe, futebolistas que tocam cavaquinho, professores que fazem teatro... Todo mundo precisa dessas duas coisas: uma profissão e um hobby. Ingres certamente não tocava violão tão bem quanto Paulinho Nogueira ou Luís Cambeba, mas tocava por puro e simples prazer, sem se sentir com a menor obrigação de ser um craque como eles. Einstein não tocava violino? Richard Feynman não tocava bongô?
O ideal seria fundir as duas coisas, porque muitas vezes a profissão oficial do indivíduo é cumprida a contragosto – pelo dinheiro, por um senso de obrigação social, ou porque o cara já criou para si todo um círculo profissional do qual não consegue escapar. Mas ser bem pago para fazer o que mais gosta é algo que qualquer indivíduo colocaria, em princípio, como um objetivo de vida.
Ingres, por exemplo. Um dos seus quadros mais famosos é “A Banhista”, uma mulher seminua, de costas, sentada na beira de uma cama. O surrealista Man Ray criou uma foto retocada intitulada “O Violão de Ingres”, um brilhante trocadilho visual com tudo que comentei acima. (Ver em: http://angesetdemons.canalblog.com/images/violon_ingres.jpg. Ele mostra uma mulher nua, numa posição semelhante à da modelo de “A Banhista”, tendo desenhadas nas costas aquelas aberturas sinuosas em forma de “S” alongado que existem nos violinos, violoncelos e outros tipos de instrumentos de cordas, e que servem como uma espécie de guelras para a respiração sonora do instrumento. Um corpo em forma de violão; a mulher, a pintura, a fotografia e a música fundidas numa imagem única, onírica, absurda mas atraente, síntese inalcançável dos desejos contraditórios.
Prezado Bráulio, VIOLON é uma palavra francesa enganadora, pois nos sugere imediatamente o sinônimo VIOLÃO. Errado: o correto é VIOLINO, instrumento de 4 cordas e com aquelas aberturas sinuosas.
ResponderExcluirGrato pela correção. Já tinhm me falado. E é o que a ilustração sugere, né?
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