A revista Science publicou uma pesquisa feita por cientistas da Universidade de Oxford na Nova Caledônia (Oceano Pacífico), investigando os hábitos alimentares de uma espécie de corvo. Segundo eles, os corvos são capazes de fabricar e guardar instrumentos rústicos que os auxiliam na busca de alimento. A pesquisa foi feita com o auxílio de uma câmara digital minúscula presa ao corpo da ave, que depois é solta na floresta e algum tempo depois capturada de novo. Isto dá aos pesquisadores acesso visual a atividades impossíveis de reproduzir em laboratório: um corvo buscando comida em seu habitat natural.
Descobriu-se que os corvos arrancam pequenos galhos, cortam fora as partes excedentes e depois os dobram para introduzi-los no ocos das árvores, conseguindo assim capturar lagartas e larvas de besouros. Também costumam procurar e curvar pequenos pedaços de arame com o mesmo fim. Quando uma dessas ferramentas se mostra útil, os corvos as guardam num lugar protegido e recorrem a elas sempre que precisam.
Eu já vi, em documentários da TV, aves pegando com o bico um graveto e introduzindo-o num oco de árvore para fisgar uma lagarta ou outra iguaria do cardápio ornitológico. Para mim, isto é uma fagulha civilizatória semelhante à cena de 2001, uma Odisséia no Espaço em que o macaco percebe que empunhando um osso pode rachar com mais facilidade o crânio de uma caça ou de um inimigo.
Mas isto envolve apenas o uso momentâneo de um “ready made”, de algo que já está ali, e que precisa apenas ter sua função deslocada. A fabricação de instrumentos é diferente, porque envolve uma capacidade de abstração de fases sucessivas do pensamento, coisa que os animais não têm. O ser humano olha para um “objeto selvagem” (fase 1) e percebe se se produzir nele tais ou tais modificações (fase 2) poderá transformá-lo em algo que servirá para alcançar um alimento de difícil acesso (fase 3).
É esta capacidade de ver o que não está diante de si e de concatenar fases sucessivas de um processo que distingue o homem dos animais. Se os corvos desbastam pequenos ramos para introduzi-los em orifícios, e se depois de usados eles os guardam para usar de novo noutro dia, isto indica uma possibilidade de lidar com dois tempos, o tempo do aqui-e-agora e o tempo em que esse aqui-e-agora, com seus possíveis problemas e suas possíveis soluções, irá se apresentar de novo. Fala-se muito da importância da mão do “Homo Faber”, o Homem Fabricador, da importância do “polegar oposto” como elemento civilizatório, porque permite empunhar objetos com firmeza. Mas para mim o mais importante é a refração da noção de tempo que ocorre no cérebro, quando o Homem (ou o Corvo) é capaz de concatenar espaços e tempos diferentes numa seqüência pragmática: “Isso que estou fazendo agora eu já fiz, já deu certo no passado, portanto preciso mantê-lo para usar de novo quando precisar”. Daí para a Bomba Atômica e a Internet é só uma questão de tempo.
Descobriu-se que os corvos arrancam pequenos galhos, cortam fora as partes excedentes e depois os dobram para introduzi-los no ocos das árvores, conseguindo assim capturar lagartas e larvas de besouros. Também costumam procurar e curvar pequenos pedaços de arame com o mesmo fim. Quando uma dessas ferramentas se mostra útil, os corvos as guardam num lugar protegido e recorrem a elas sempre que precisam.
Eu já vi, em documentários da TV, aves pegando com o bico um graveto e introduzindo-o num oco de árvore para fisgar uma lagarta ou outra iguaria do cardápio ornitológico. Para mim, isto é uma fagulha civilizatória semelhante à cena de 2001, uma Odisséia no Espaço em que o macaco percebe que empunhando um osso pode rachar com mais facilidade o crânio de uma caça ou de um inimigo.
Mas isto envolve apenas o uso momentâneo de um “ready made”, de algo que já está ali, e que precisa apenas ter sua função deslocada. A fabricação de instrumentos é diferente, porque envolve uma capacidade de abstração de fases sucessivas do pensamento, coisa que os animais não têm. O ser humano olha para um “objeto selvagem” (fase 1) e percebe se se produzir nele tais ou tais modificações (fase 2) poderá transformá-lo em algo que servirá para alcançar um alimento de difícil acesso (fase 3).
É esta capacidade de ver o que não está diante de si e de concatenar fases sucessivas de um processo que distingue o homem dos animais. Se os corvos desbastam pequenos ramos para introduzi-los em orifícios, e se depois de usados eles os guardam para usar de novo noutro dia, isto indica uma possibilidade de lidar com dois tempos, o tempo do aqui-e-agora e o tempo em que esse aqui-e-agora, com seus possíveis problemas e suas possíveis soluções, irá se apresentar de novo. Fala-se muito da importância da mão do “Homo Faber”, o Homem Fabricador, da importância do “polegar oposto” como elemento civilizatório, porque permite empunhar objetos com firmeza. Mas para mim o mais importante é a refração da noção de tempo que ocorre no cérebro, quando o Homem (ou o Corvo) é capaz de concatenar espaços e tempos diferentes numa seqüência pragmática: “Isso que estou fazendo agora eu já fiz, já deu certo no passado, portanto preciso mantê-lo para usar de novo quando precisar”. Daí para a Bomba Atômica e a Internet é só uma questão de tempo.
Sempre fui fascinado pelo momento em que o pensamento humano salta em direção a uma decisão ou a uma resposta. Dentre tantos caminhos possíveis, toma-se apenas um, e são tantas as coisas que influenciam nesse percurso, que acabam tornando cada escolha de cada indivíduo um evento único e hermético aos demais.
ResponderExcluirIsto é pouco. Há uma espécie de corvo que vive no Japão que aprendeu a abrir nozes com o semáforo. Ele pousa em um fio sobre a faixa de pedestres e joga uma noz e vai para calçada, junto de outros pedestres. Quando o sinal fecha, o corvo "caminha" na faixa de pedestres como as demais pessoas e pega o miolo da noz, esmagada pela passagem dos carros.
ResponderExcluirVi na televisão. E filmaram todo este processo. Pegar um graveto é uma coisa, agora prever que os carros irão parar no sinal vermelho... Talvez isto só pudesse acontecer no Japão...
Abs