O escritor e crítico Mário Pontes acaba de lançar pela Odisséia Editorial (Rio) uma coletânea de ensaios e resenhas, Elementares – Notas sobre a História da Literatura Policial em que dá um balanço no gênero. Pontes é um dos poucos críticos literários brasileiros que se dá o trabalho de acompanhar e estudar com atenção a literatura policial. A literatura de gênero (policial, terror, ficção científica, fantasia, etc.) é vítima de um ciclo vicioso de ignorância. Gêneros literários são auto-referentes por sua própria natureza. Um gênero é uma linha temática que se prolonga no tempo através de contribuições individuais. Um dos primeiros objetivos de um desses livros é comentar, enriquecer, aprofundar, etc. textos escritos por outros autores. Já foi dito pelos especialistas que o leitor desse tipo de literatura se interessa mais pela obra do que pelo autor, e se interessa mais pelo gênero do que por cada obra individual.
Essa literatura pressupõe o conhecimento de textos anteriores. Pressupõe no leitor e no crítico um mínimo de familiaridade com certas regras básicas. Antigamente tais regras cabiam em breves “decálogos” escritos por especialistas. Hoje em dia, com a proliferação das correntes e sub-correntes, não há quem acompanhe todas. Os próprios leitores se especializam: há quem só goste de espionagem, ou de romance “noir”, ou de mistério detetivesco, ou de investigação forense. O crítico que não foi exposto a esses textos na juventude, e chegando à idade adulta foi exposto aos preconceitos que os cercam, dificilmente vai conseguir, daí em diante, absorver sem culpa a quantidade de textos necessária para poder se pronunciar sobre uma dessas obras. O que ele faz, então? Ou faz de conta que o gênero não existe, ou diz que não presta.
Não é o caso de Mário Pontes, que reúne aqui artigos saídos na imprensa em que ele avalia com conhecimento de causa desde os clássicos como Conan Doyle, Gaboriau, Raymond Chandler, Maurice Leblanc, Agatha Christie, etc. até autores mais recentes. É sempre bom ver alguém comentar com clareza e percepção autores de quem a gente nunca ouviu falar: é o caso de Didier Lamaison ou Andrea Camilieri, comentados por Pontes. Há um ótimo capítulo sobre George Simenon (um autor que li muito pouco) e seu Comissário Maigret, em que o crítico faz um paralelo entre as novelas que têm Maigret como protagonista e os outros romances de crime de Simenon.
O último capítulo, “O caso da legitimação gradual”, dá um balanço nessa eterna pedra-no-sapato dos aficionados do gênero: o preconceito com que este é visto pelo “establishment” cultural. Pontes cita alguns dos grandes admiradores do romance policial (Walter Benjamin, Ernst Mandel, Antonio Gramsci) e traça esse sofrido percurso do gênero para se impor junto às academias e universidades. Faz a gente se lembrar de séculos remotos em que os únicos escritores de verdade eram os poetas, e a prosa era uma forma bárbara praticada pela plebe.
Essa literatura pressupõe o conhecimento de textos anteriores. Pressupõe no leitor e no crítico um mínimo de familiaridade com certas regras básicas. Antigamente tais regras cabiam em breves “decálogos” escritos por especialistas. Hoje em dia, com a proliferação das correntes e sub-correntes, não há quem acompanhe todas. Os próprios leitores se especializam: há quem só goste de espionagem, ou de romance “noir”, ou de mistério detetivesco, ou de investigação forense. O crítico que não foi exposto a esses textos na juventude, e chegando à idade adulta foi exposto aos preconceitos que os cercam, dificilmente vai conseguir, daí em diante, absorver sem culpa a quantidade de textos necessária para poder se pronunciar sobre uma dessas obras. O que ele faz, então? Ou faz de conta que o gênero não existe, ou diz que não presta.
Não é o caso de Mário Pontes, que reúne aqui artigos saídos na imprensa em que ele avalia com conhecimento de causa desde os clássicos como Conan Doyle, Gaboriau, Raymond Chandler, Maurice Leblanc, Agatha Christie, etc. até autores mais recentes. É sempre bom ver alguém comentar com clareza e percepção autores de quem a gente nunca ouviu falar: é o caso de Didier Lamaison ou Andrea Camilieri, comentados por Pontes. Há um ótimo capítulo sobre George Simenon (um autor que li muito pouco) e seu Comissário Maigret, em que o crítico faz um paralelo entre as novelas que têm Maigret como protagonista e os outros romances de crime de Simenon.
O último capítulo, “O caso da legitimação gradual”, dá um balanço nessa eterna pedra-no-sapato dos aficionados do gênero: o preconceito com que este é visto pelo “establishment” cultural. Pontes cita alguns dos grandes admiradores do romance policial (Walter Benjamin, Ernst Mandel, Antonio Gramsci) e traça esse sofrido percurso do gênero para se impor junto às academias e universidades. Faz a gente se lembrar de séculos remotos em que os únicos escritores de verdade eram os poetas, e a prosa era uma forma bárbara praticada pela plebe.
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