terça-feira, 1 de dezembro de 2009

1392) Crimes de arte (30.8.2007)


("A Fonte", de Duchamp)

O que leva alguém a praticar um crime contra uma obra de arte? Os ladrões de quadros querem ganhar dinheiro; é um roubo banal. Mas o que passa na cabeça de um sujeito que entra num Museu com uma faca escondida na roupa, e, na primeira bobeira dos seguranças, pula sobre um quadro e começa a cortá-lo em tiras?

O saite “Art Crime” (http://renewal.va.com.au/artcrime/pages/front.html) reúne material sobre vários casos famosos, uns incompreensíveis, outros grotescos, todos meio absurdos. O famoso quadro de Rembrandt A Ronda Noturna já foi atacado três vezes, no Stedelijk Museum, de Amsterdam, duas delas a faca e uma com ácido sulfúrico. Nos dois primeiros casos, houve restauração; no último, os guardas agiram a tempo e o ácido só atingiu a camada superficial de verniz. O primeiro ataque, em 1911, foi por parte de um ex-marujo demitido que queria protestar contra o Governo. E Rembrandt pagou o pato.

Alguns ataques são “conceituais”, como o do artista performático Pierre Pinoncelli contra A Fonte de Michel Duchamp. Para quem não sabe, esta obra consiste num simples urinol de porcelana, desses de mictório público, retirado do seu contexto e exposto como obra de arte. Pinoncelli urinou no urinol (até aí tudo bem) e depois o atacou com um martelo. Recebeu uma multa de algumas centenas de milhares de francos. Também performático foi o ataque do russo Alexander Brener contra o quadro Suprematisme do seu conterrâneo Malevich em 1997, sobre o qual ele pintou com spray um cifrão. Brener é conhecido pelo seu hábito de interromper eventos públicos, (principalmente os que envolvem alguma discussão sobre arte) praticando alguma ação desmiolada.

Há casos em que o artista ajuda isso a acontecer. Yoko Ono, uma conhecida advogada da interatividade, teve suas obras “interferidas” por um estudante de arte em 1997: ele pegou uma caneta vermelha e riscou cinco de uma série de 25 painéis expostos pela artista numa galeria nos EUA. Em sua defesa, alegou uma frase da viúva de John Lennon: “Ninguém pode proibir você de tocar numa obra de arte”.

E há aqueles que são doidos mesmo e fim de papo. Um dos sujeitos que atacaram o quadro de Rembrandt era um desequilibrado que, depois de cumprir algum tempo numa clínica psiquiátrica, fugiu e foi até Amsterdam onde arrancou um tampo bem no meio de um quadro de Picasso, Mulher Nua Diante de um Jardim, no mesmo Stedelijk Museum.

Os performáticos, tudo bem; mas os doidos, por que motivo atacam obras de arte, e não um telefone público ou um cartaz de propaganda? Eu acho que é porque uma forma de ser doido é não entender a arte. Perceber a adoração das pessoas àquele objeto, e não saber por quê. Ele sabe apenas que é algo sagrado, mas, como um cachorro diante de um animal que nunca viu, sua única reação é arreganhar os dentes e partir pra cima. Porque, afinal, não estão sozinhos. Muita gente que não é doida também agiria assim, se pudesse, diante do que não compreende.

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