Dizem que o brasileiro lê pouco, ou melhor, compra pouco. Muita gente atribui isto ao preço do livro e ao baixo poder aquisitivo do leitor. Pode ser. Toda vez que algum plano econômico elevou esse poder, as vendas dos livros subiram rapidamente. Brasileiro gosta de ler, mas nem todo mundo dispõe de 30 ou 40 reais para pagar por cada livro que lhe interessa.
Tem uma outra coisa, no entanto, que talvez influa. É a expansão do mercado de revistas, que nunca viveu um momento tão florescente e de tanta concorrência. Sou um freqüentador de bancas de revistas desde os 9 anos, quando ficava lendo quadrinhos no Abrigo Maringá, de pé junto ao balcão, até que o dono da banca me mandasse embora. Na banca de Henrique, ali no Calçadão, comprei em 1965 uma coleção inteira de Seleções que levei aos poucos para casa, um pacote por dia, durante um mês. E posso afiançar que nunca vi tanta revista diferente como hoje em dia.
Revistas de História surgem uma atrás da outra (houve até um processo entre duas delas, por plágio de projeto editorial). Revistas de literatura e língua portuguesa se acotovelam: compro uma por mês, variando os títulos. Revistas de eletrônica, de guitarra, de teclado, de MP3, de informática. Revistas de corte e costura, de culinária, de moda feminina. Revista de fofocas fonográficas e televisivas. Revista de ginástica e dieta, de “fitness”, de ioga, de meditação, de aeróbica. Revistas de economia, de Bolsa de Valores, de microempresas, de administração. Revistas de ciência, de tecnologia, da História da Ciência, de biografias de cientistas e autores de ficção científica. Revistas de interesse geral, de quadrinhos, de sacanagem... E não se avista o fim.
Uma família com grana tem dezenas de títulos para interessar ao Pai, à Mãe, ao Filhão e à Filhinha. Se têm dinheiro bastante para poder investir em leitura, é bem possível que todo esse dinheiro se esvaia diretamente nas bancas de revistas, sem chegar à livraria. A oferta é gigantesca, os interesses são variados, a leitura é leve, agradável, colorida. O Livro tem que cortar um dobrado para enfrentar um concorrente que ostenta tamanha biodiversidade. Uma pesquisa recente do Ipea mostra que no total de gastos com leitura os brasileiros gastam 68,8% com revistas e jornais, contra 11,2% com livros.
O mais curioso é que não vejo muitas revistas literárias. Trinta anos atrás víamos nas bancas a Escrita, a Ficção, a José e outras. Era a época do “boom” dos contistas brasileiros. Hoje, quais as revistas que publicam um singelo conto de autor nacional? O mercado de revistas é informativo e de utilidades variadas (vide listagem acima), mas nele não há espaço para a ficção. Parece que o leitor de hoje encara a leitura como um processo pragmático de adquirir conhecimentos factuais e de melhorar seu corpo, sua mente, sua aparência pessoal, sua conta bancária, etc. E a literatura, ao que parece, não contribui para nada disto.
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