segunda-feira, 26 de outubro de 2009

1328) As árveres somos nozes (15.6.2007)



Está no YouTube, a caverna de Ali Babá do video alternativo. Tudo está no YouTube, desde vídeos domésticos até turmas de jovens bêbados acenando para a câmara até videocassetadas e clássicos do cinema mudo. O vídeo de que falo hoje é um desses sucessos efêmeros que todo mundo vê e todo mundo recomenda a todo mundo. As febres do YouTube são assim, rápidas, intensas, logo substituídas por uma febre semelhante em torno de um produto diferente. Algum tempo atrás, a febre era em torno de “Tapa na Pantera”, um video de uns 10 minutos com uma atriz cinqüentona elogiando os efeitos da maconha (efeitos que aliás são visíveis na protagonista durante todo o depoimento). Muito engraçado, mas não se compara ao caso em pauta.

O caso em pauta é um vídeo de pouco mais de 3 minutos cuja parte principal é a trilha sonora: duas pessoas tentando ensinar um sujeito a repetir a frase: “O jardineiro é Jesus, e as árvores somos nós”. Trata-se de uma gravação original em áudio, com desenhos rudimentares que ilustram e comentam as besteiras que escutamos. Porque o camarada simplesmente não consegue repetir a frase. Tem horas que ele parece débil mental, tem horas que parece alcoolizado, ou que parece fazer de propósito – enfim, ele diz: “O zardineiro é Zesus...” Aí é interrompido: “Não, não. O jardineiro é Jesus, e as árvores somos nós”. Ele tenta de novo: “O jardineiro é Jesus, e as árveres...” Os outros o corrigem: “Ár-VO-res!” E ele: “Ár-VO-ROS!” “Não, não: as árvores somos nós” E ele: “As árveres somos nozes”.

Não vou repetir tudo porque perde a graça, e aliás não tem muita coisa fora isto. Já recebi desde janeiro uns 50 emails de gente conhecida e desconhecida me indicando este video, com link e tudo. E já devo tê-lo mostrado, em minha casa e na casa dos outros, a outras 50 pessoas. Por que? Creio eu que é pelo apelo irresistível do besteirol, uma das principais forças propulsoras da Internet. Fazer besteirol com cobrança de ingresso é coisa para profissionais como o Casseta & Planeta. Nem todo mundo está dispostos a pagar para ouvir isso. Mas na Internet você exibe sem pagar nem ganhar, e um milhão de pessoas assistem sem ganhar nem pagar. E fica tudo em casa.

O zardineiro é a Internet, esta capacidade incrível de semear idéias, sejam elas a Teoria do Campo Unificado Einsteiniano ou uma coroa elogiando o baseado. O jardeneiro semeia, espalha, pulveriza, ou – no idioma local – disponibiliza, e as pessoas chovem sobre aquilo como abelhas chovem sobre as flores, transformando-se em agentes involuntários da polinização. O YouTube é uma invenção recente de dois caras de 20 e poucos anos, e hoje vale bilhões de dólares. Eles são os jardineiros, são Chessús, são o grande mestre da sinapse social. E as árveres somos nozes, para o Bem e para o Mal, bebês engatinhando no novo patamar da comunicação, um mundo que para as gerações futuras será o único possível, e não conseguirão imaginar como era o mundo antes.

Um comentário:

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