domingo, 25 de outubro de 2009

1317) Douglas Hofstadter (2.6.2007)




Douglas Hofstadter é um dos indivíduos mais inteligentes que eu já vi. Muitos textos sobre Ciência que aparecem nesta coluna comentam assuntos extraídos dos seus livros. 

Três deles ocupam lugar de honra na minha estante : 

Godel, Escher e Bach (1979), um ensaio sobre inteligência artificial, consciência, linguagem e significação, com pontos de partida extraídos da Matemática (o Teorema de Godel), das Artes Plásticas (as gravuras de M. C. Escher) e da Música Barroca (as obras de Bach); 


Metamagical Themas (1985), uma enorme coletânea dos artigos que ele publicou durante vários anos na revista Scientific American, nos quais fala de computação, física, design, biologia, Teoria dos Números, cubo mágico, ativismo ambiental etc.; 


e Le Ton Beau de Marot (1997), em que ele retraduz compulsivamente um curto poema francês do século 19 e desafia outras pessoas a fazerem o mesmo, o que redunda em centenas de traduções, paródias e pastiches, além de longas elucubrações sobre linguagem, poesia e semiótica.



Uma preocupação de Hofstadter é definir o que é consciência: como nosso pensamento elabora e manipula conceitos, e como isto pode ser transmitido de uma mente para outra, de um idioma para outro, de uma linguagem-de-computador para outra, e assim por diante. É fascinante vê-lo comparar a linguagem das valsas de Chopin com a linguagem das fugas de Bach, e mostrar as estruturas expressivas que existem numa coisa tão artificial e abstrata quanto a música. 

Igualmente provocativo é ver suas discussões sobre a maneira como projetamos significado num sinal gráfico (a escrita), num gesto, numa expressão facial, etc. Lendo seus textos, percebemos que a mente humana é uma máquina de produzir significado, de traduzir o novo e o desconhecido em termos do que é velho e conhecido, e ao mesmo tempo de produzir idéias e formas totalmente novas nos contextos e nas circunstâncias mais inesperadas.

Hofstadter deu uma entrevista recente a Jorge Pontual no canal GloboNews, da GloboSat. Perguntado sobre o que diferencia a mente humana da mente dos animais, ele citou um exemplo que lhe ocorrera poucos dias antes: de madrugada, numa loja de conveniência, ele viu o caixa correr atrás de uma freguesa e devolver-lhe uma nota de 10 dólares que ela esquecera de pegar. 

Ele compara isto com a inacreditável capacidade de nosso cérebro para gerar conceitos abstratos, e dá como exemplo algo como: “Cancelamento de assinatura de revista de sinopses de séries televisivas”, algo que intuitivamente entendemos do que se trata, mas que para existir consiste num empilhamento de incontáveis níveis de fatos sociais e de abstrações resultantes destes fatos: “O que é TV? O que é série? O que é revista? O que é assinatura?”. 

Comparando nossa imensa capacidade intelectual e nosso impulso moral de tratar os outros como gostaríamos de ser tratados (devolvendo os 10 dólares), Hofstadter nos faz recuperar a nossa fé no futuro da espécie humana.






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