terça-feira, 18 de agosto de 2009

1203) A arte de Rob Gonsalves (20.1.2007)


("Deluged")

Um homem se refugia entre os galhos de uma árvore; à sua volta tudo está invadido por uma enorme extensão de água, da qual emergem apenas alguns troncos de árvores distantes. Mas, se olharmos para as vizinhanças de árvore onde ele se encontra, veremos que aquela superfície azul é formada apenas por milhares de guarda-chuvas azuis embaixo dos quais protegem-se milhares de pessoas, algumas delas com o braço estendido tentando sentir os pingos da chuva que os ameaça (“Deluged”, “Invadidos pelo Dilúvio”). Na sala escura de uma casa, um menino está se divertindo com seu trenzinho de brinquedo. Os pequenos trilhos onde ele puxa o trenzinho se prolongam na direção do corredor, o qual à medida que se alonga vai aumentando de dimensões, até que vemos um enorme trem de verdade, avançando por eles no meio da noite, em rota de colisão com o trem minúsculo com que brinca o garoto (“House by the Railroad”, “A Casa Junto à Estrada de Ferro”). Dois homens estão no interior de uma cripta, cheia de arcadas e de colunas de pedra; quando olhamos melhor, percebemos que as pedras amontoadas não passam de livros, e que um dos homens está usando uma escada em “V” para retirar o livro numa parte mais alta (“The Library”, “A Biblioteca”).

São apenas três dos 50 quadros do artista Rob Gonsalves que podem ser vistos no saite “Imagine Art Studios” (em: http://www.hrosecure.com/firstclass/store08/page14.html), dedicado a pintores que trabalham nesta nebulosa área que alguns chamam de “realismo mágico”. Gonsalves é um artista hábil, mas dificilmente vejo algo em seus quadros que já não tenha sido executado num quadro de René Magritte ou de M. C. Escher, principalmente este último. Seu processo mais freqüente é a justaposição de espaços incompatíveis (um do lado direito, outro do lado esquerdo da pintura; ou um na parte superior e outro na inferior), os quais vão se penetrando mutuamente através da metamorfose gradual entre duas classes de objetos (mar/guarda-chuvas, pedras/livros, etc.).

Se o saite mostrasse apenas 3 ou 4 quadros de Gonsalves produziria um efeito mais intenso do que mostrando meia centena. O excesso de exemplos evidencia o que a obra do artista tem de repetitivo, de formulaico. Há uma receita que ele aplica reiteradamente. A mesma crítica poderia ser feita a Escher, mas neste caso há a atenuante de que foi Escher quem inventou (e com minuciosa teorização geométrica) os processos que emprega. Escher é (na classificação de artistas proposta por Ezra Pound) um Inventor; Rob Gonsalves é um Diluidor. Pound vê a importância de ambas as categorias mas dá preferência óbvia aos Inventores. O mercado artístico, contudo, sabe que Inventores são raros, e Diluidores surgem a torto e a direito, porque para sê-lo basta dominar uma técnica e ser bem informado. Uma tela de Gonsalves produz em nós um “oh!” de surpresa; cinqüenta nos provocam um bocejo de “déjà vu”.

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