segunda-feira, 22 de junho de 2009

114) Biquíni de bolinha amarelinha (10.10.2006)



Está rolando uma polêmica nos EUA a respeito da autoria da música “Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polkadot Bikini”. Morreu um tal de Paul Vance, e os jornais começaram a noticiar a morte do autor da canção, grande sucesso na voz de Brian Hyland em 1960. Logo logo apareceu outro Paul Vance afirmando ser ele o autor, e exibiu os comprovantes de direitos autorais que recebe há décadas.

A viúva do primeiro Paul Vance declarou à imprensa estar arrasada, pois o marido sempre afirmara ser o autor da música, e nunca lhe passou pela cabeça que ele não fosse. Disse a viúva que seu marido tinha composto esta canção aos 19 anos. Era um rockzinho bobo destinado ao público adolescente (o cantor que a gravou tinha apenas 16), e ele não botou muita fé na música, vendendo os direitos autorais para outro cara. Uma prática muito comum no meio musical, tanto na Praça Mauá dos sambistas cariocas quanto na Tin Pan Alley da música pop norte-americana.

A história ainda está em desdobramento, e ambas as versões são plausíveis. Um rapaz de 19 anos compõe uma música e vende sua autoria? Muito plausível. Digamos que alguém lhe oferecesse, sei lá, 500 dólares naquela época. Qual o garoto que não venderia? Meu conselho aos jovens compositores é: não vendam. Pode ser que vocês tenham em mãos, sem saber, uma grande música. E se a música não parecer nada grande, parecer uma música bobinha, aí é que não devem vender mesmo, porque ela já tem meio caminho andado para virar uma mina de ouro.

O que é estranho na história do falecido é que ele tenha vendido a canção dele para um sujeito com o nome igual ao dele! Levemente improvável. Em filosofia existe um princípio chamado de “navalha de Occam”, criado por um filósofo que tinha este nome, e que diz algo como: entre duas explicações, prefira sempre a mais simples, a que percorre caminhos menos tortuosos. Para se acreditar no falecido compositor, ele fez a música e foi abordado por um cara homônimo seu que lhe comprou os direitos. Muito mais prático é imaginar que a música já era do outro, e ele, ouvindo o rádio atribuir a autoria da canção a “Paul Vance”, começou a dizer que era ele próprio.

A música foi sucesso aqui no Brasil como “Biquíni de Bolinha Amarelinha”, cantada por Ronnie Cord (filho do compositor Hervê Cordovil), que era um dos ídolos do incipiente rock adolescente da minha infância, o qual envolvia outros artistas como Tony e Celly Campello, Sérgio Murilo, Sônia Delfino e outros. Foi quando as meninas aprenderam a dançar rebolando os quadris, técnica desenvolvida na calçada, praticando com o bambolê. Lembram do bambolê? Devem lembrar, quando mais não seja por causa da música de Antonio Barros gravada por Jackson do Pandeiro: “Mas inventaram um tal de bambolê / mas que negócio da mulesta foram inventar...” Os pais de família levavam as mãos à cabeça, achando aquilo o fim do mundo. O rock, quem diria, já foi ingênuo e franco.

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