segunda-feira, 22 de junho de 2009

1111) Lição das Urnas (6.10.2006)



Não falarei aqui de candidatos, falarei de processos. O Brasil, com suas urnas eletrônicas, dá um banho de eficiência em outros países, principalmente os EUA. Depois das eleições presidenciais norte-americanas de 2000, vi na TV a cabo um especial sobre o tumulto daquela votação em que George W. Bush derrotou o candidato democrata Al Gore. Gore teve 500 mil votos a mais que Bush, mas perdeu no Colégio Eleitoral. Foi a primeira vez no século 20 em que um candidato teve mais votos do que o oponente mas foi derrotado, porque nos EUA quem ganha o voto popular num Estado fica com a totalidade dos votos daquele Estado no colégio eleitoral, que é quem na verdade elege o Presidente. (Pois é, amigos. Aqui, o último eleito por “colégio eleitoral” foi Tancredo.)

A derrota decisiva de Gore foi no Estado da Flórida, cujo governador era o irmão de George, Jeb Bush. Ali, houve uma espantosa bagunça que até hoje não ficou muito bem esclarecida. Votos desaparecidos, votos rasgados, votos apurados mas não transferidos para os boletins... E quando a imprensa brasileira quer citar exemplo de coronelismo político, só se lembra do pobre do Nordeste.

O verbete “United States Presidential Election, 2000” da enciclopédia livre Wikipedia tem números, imagens e detalhes que não tenho como reproduzir aqui (ver em: http://en.wikipedia.org/wiki/U.S._presidential_election%2C_2000). As irregularidades foram tantas que as recontagens de votos levaram cerca de um mês, enquanto o país inteiro fervia em polêmicas, sem saber quem tinha ganho. (Imagine se fosse no Brasil) No fim, a Suprema Corte, já sem muita paciência, bateu o martelo e disse que Bush era o vencedor. Al Gore poderia ter prolongado a batalha, questionando as recontagens, mas, segundo se diz, admitiu a derrota para não dividir o país. Tem gente que até hoje não o perdoa por isto. Eu, por exemplo.

Nos condados onde houve recontagem, conferiam-se primeiro as tabulações, e, se havia dúvida, recontavam-se os votos manualmente. O que vi na TV era um caos: cédulas rasgadas, amarfanhas, cédulas onde não se sabia onde estava a marca, cartões perfurados mais de uma vez... Nos EUA, cada condado adota um sistema diferente de votação: fazendo “x”, apertando botão, perfurando cartão... Se isso fosse o sistema de voto na Rússia, eu pensaria, “puxa, que coisa atrasada”. O que pensar, então, quando se vê tamanho absurdo na pátria da eficiência e da Informática?

É paradoxal que o Brasil dê um banho de tecnologia justamente nos EUA, e justamente no modo de pôr em prática a democracia. Os norte-americanos são capazes de bombardear e invadir outros países para obrigá-los a votar para Presidente, mas, casa de ferreiro, espeto de pau. A eleição deles em 2000 foi uma mistura de pesadelo de Kafka com esquete do Monty Python. Se levassem mesmo a democracia a sério, o voto lá seria obrigatório, e o sistema de votação seria uma coisa decente, como é aqui.

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