quarta-feira, 10 de junho de 2009

1083) Alkmin, o Cafu do PSDB (5.9.2006)




Coitado de Geraldo Alkmin, meu Deus. Sua situação nas pesquisas é tão constrangedora que, para ajudá-lo, resolvi escrever um artigo dizendo que sua derrota eleitoral é líquida e certa. Toda vez que eu profetizo alguma coisa o Destino se mobiliza todo para me desmentir, portanto espero que estas linhas propiciem ao bravo político de Pindamonhangaba uma arremetida espetacular na reta final da campanha, transformando este morníssimo pleito numa febril disputa urna a urna, voto a voto.

O chega-pra-lá que Alkmin deu em José Serra, desbancando-o da condição de candidato do PSDB à Presidência, foi a última coisa emocionante desta campanha. A gente não sabia o que ia acontecer, e qualquer um dos resultados era possível; foi o último momento quântico do pleito. O resto está sendo de uma previsibilidade francamente newtoniana. Alkmin foi aquele cara que vem lá de trás, empurrando todo mundo, “sai, sai, deixa comigo, deixa que eu assumo, deixa que eu resolvo”, e quando todo mundo arreda para deixá-lo passar, ele tomba exausto. A luta pela candidatura esgotou todo o gás que tinha.

Agora, os cardeais do PSDB não sabem o que fazer com ele mas não podem mais substituí-lo. Vivem uma angústia semelhante à de Carlos Alberto Parreira, quando viu Cafu, sentado ao seu lado, escalar-se a si próprio durante uma entrevista coletiva na véspera do jogo contra Gana, e percebeu naquela hora que quem manda na Seleção Brasileira não é o técnico, são Os Contratantes e por tabela seus Contratados. Hoje, Alkmin é o Cafu do PSDB, ao qual não resta alternativa senão acompanhar até o fim o próprio esquife.

Alkmin protagonizou dias atrás um episódio engraçado no Rio. Entrou no Vermelhinho (bar da Cinelândia, junto ao Amarelinho), pediu em vez de um chope um cafezinho, e botou sal pensando que era açúcar. Isso pra mim foi mais simbólico e definidor do que um hexagrama do I-Ching. Fez parelha com um episódio semelhante vivido anos atrás pelo nosso bravo prefeito César Maia, que num corpo-a-corpo eleitoral no centro da cidade entrou num estabelecimento, encostou-se no balcão e pediu um cafezinho. O balconista respondeu: “Doutor, isto aqui é um açougue”.

Deve servir de consolo a Alkmin o fato de que César Maia foi eleito, e é hoje uma espécie de prefeito vitalício do Rio, podendo eleger-se quantas vezes quiser e a legislação permitir. A falta de carisma (se Alkmin é um picolé de chuchu, César é uma jujuba de soja) não o impediu de passar-no-rodo os oponentes, talvez porque um prefeito e suas obras sempre têm presença mais palpável do que um Presidente, que é votado pelo que tem de simbólico e emblemático. Alkmin fala na TV com uma concentração e intensidade admiráveis. Nunca olha para a câmara, o que lhe dá a aparência de um patrão que está demitindo um empregado sem cruzar o olho com o dele. Pode estar iniciando uma promissora carreira em escala nacional – agora, se não se cuidar, perde o segundo lugar para a Maria Bonita das Alagoas.

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