(ruínas de Cartago)
“Delenda Cartago!” é uma frase latina que significa “Cartago deve ser destruída!”, ou, mais modernamente, “Deletem Cartago!” Era uma frase de Catão, político romano que defendia a destruição da cidade africana devido à ameaça econômica e bélica que ela representava para Roma. A campanha surgiu durante as Guerras Púnicas, três guerras sucessivas ocorridas ao longo de um século, até que o exército romano sitiou a cidade, invadiu-a, degolou todo mundo, incendiou, e depois espalhou sal sobre as ruínas. Naquele tempo não tinha esse negócio de ONU ou Convenção de Genebra para atrapalhar uma guerra.
“Delenda Cartago” é também o título de um dos poemas épicos mais belos da língua portuguesa, escrito por Olavo Bilac: “Fulge e dardeja o sol nos amplos horizontes do céu da África...” Bilac descreve em alexandrinos cinemascópicos o cerco, e reproduz alguns dos mitos que cercam essa batalha tão famosa quanto a do Cerco de Tróia: a de que quando os arcos dos defensores tinham suas cordas partidas de tanto disparar flechas, as mulheres cartaginesas cortavam seus longos cabelos para fabricar novas cordas e defender a cidade. Vocês gostam daqueles filmes épicos-históricos de David Lean, Eisenstein, Ridley Scott? Leiam Bilac.
A frase de Catão ficou na História, contudo, como um dos “bordões” mais famosos da política. “Bordão”, na gíria dos redatores de TV, é aquela frase que um personagem repete o tempo inteiro, e que se torna sua marca registrada: o professor Raimundo dizendo “E o salário, ó...”, ou Didi Mocó dizendo “É muita cafusão, eu tô muito cafuso...” O bordão do político romano era na verdade uma frase mais longa: “Ceterum censeo Carthaginem esse delendam”, algo como “olha, eu não sei não, mas por mim, essa tal de Cartago deveria ser passada-no-rodo o quanto antes”. Ele a repetia ao fim de todos os seus discursos, mesmo que o tema deles fosse o custo de vida ou a vitória do Flamengo na Copa do Brasil.
Catão mostrou o quanto é importante a repetição de uma ordem até que ela seja obedecida. Catão maltratou, martelou, massacrou os ouvidos do Senado romano durante anos com essa frase. Cravou-a como um prego no juízo de cada um dos seus concidadãos. Transformou-a num clichê da época, num lugar-comum, num bordão repetido por todos. Conseguiu impô-la como verdade, como mandamento, como Uma Lei da Natureza. E Cartago foi destruída.
Foi uma batalha de um homem só, e uma batalha heróica (não discutirei aqui se Cartago era boa ou ruim, se merecia ou não o ferro, o fogo e o sal). Ela ficou como exemplo para os atuais Senhores da Guerra, e seus bordões. “O Iraque deve ser invadido”, dizem uns. “Israel deve ser destruído”, bradam outros. Para nós, que somos neutros nessas guerras, são bordões insensatos. Para eles, que cresceram com esse “loop” girando eternamente em suas consciência, é algo que não lhes ocorre discutir. É uma Lei da Natureza. Precisa ser obedecida.
O Delenda Cartago dos dias atuais está centrado na 'democracia' - para uns, só a democracia importa. No entanto, a invocação é para destruí-la.
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