quinta-feira, 28 de maio de 2009

1051) Arte inflável (29.7.2006)



Maurice Agis é um artista britânico que desde 1970 trabalha em instalações interativas, espaços onde o público penetra e entra em contato com experiências sensoriais de vários tipos. Há poucos anos ele inaugurou uma obra chamada “Dreamspace”, uma enorme construção com cinco metros de altura e 2.500 metros quadrados de área, composta de mais de cem “aposentos” (células de plástico inflável ligadas por corredores). À entrada o público tira os sapatos, veste batas coloridas, e pode ficar lá dentro o tempo que quiser. Em cada aposento há efeitos de luzes coloridas, música “new age”, etc.

Disse o artista sobre o Dreamspace: “O espaço não é algo que você contempla: é algo que se experimenta. E o tempo não é algo que se experimenta: é algo que se contempla”. (Eu acho exatamente o contrário, mas afinal, Arte consiste muitas vezes em inverter o óbvio.) Maurice Agis diz: “A presença humana em meu trabalho é fundamental para que ele faça sentido”. A obra não é um objeto para ser admirado de fora: é um ambiente onde se deve entrar, circular, demorar-se, interagir.

Os frequentadores, quando saem, deixam num livro de visitas seus testemunhos: “Uma explosão maravilhosa de cores, uma experiência psicodélica... – Ver crianças saltando e homens adultos rodopiando me fez chorar, não sei se as lágrimas eram por um mundo já esquecido ou por um mundo recordado e trazido de novo à vida... – Inacreditável, único, cheio de paz – se existe um Céu, esta obra de arte não está longe dele”.

Pois bem: dias atrás, o Dreamspace, que estava montado num parque em Durhan, desprendeu-se das cordas que o mantinham ancorado ao chão e elevou-se verticalmente, cheio de gente no seu interior. A enorme estrutura tinha um engenhoso sistema de ventilação interna, controlando as correntes de ar em seu interior e evitando que elas a impulsionassem para cima. Algo deu errado. O Dreamspace partiu as amarras, elevou-se como um balão desgovernado, e foi arrastado pelo vento até a extremidade do parque, só não prosseguindo rumo ao rio porque ficou providencialmente enganchado em alguns postes e árvores. Mesmo assim, a imensa estrutura pendeu, tombou, derramando gente lá de cima como se fossem caroços de feijão. Duas mulheres morreram. Uma criança está em estado grave. Há dezenas de feridos.

Muito cruel, especialmente se considerarmos que a polícia trabalha com a hipótese de sabotagem: alguém poderia ter afrouxado uma das cordas de sustentação, o que aumentou a pressão sobre as outras. É irônico e trágico que uma obra voltada para a paz, o alto astral, o relaxamento das tensões, acabe se revelando tão vulnerável. Maurice Agis (que segundo a imprensa estava presente ao local, e ficou arrasado com o que aconteceu) afirmou certa vez: “Minha obra é uma ação na qual os cidadãos podem se encontrar e interagir para criar uma consciência maior da realidade”. De certa forma, e uma forma muito dolorosa, foi exatamente o que aconteceu.

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