quinta-feira, 14 de maio de 2009

1027) Alô torcida brasileira (1.7.2006)



Meus informantes na Copa têm me repassado informações contraditórias. Todo jornalista tem suas “fontes”, pessoas que lhe dizem o que está acontecendo, e em cuja opinião, honestidade e discernimento o jornalista confia. Mas, o que acontece quando fontes igualmente confiáveis dão retratos antagônicos de uma situação?

Uma das minhas fontes é o jornalista Bronislaw Korchinski (nome fictício, porque não posso revelar sua verdadeira identidade). Me diz ele: “BT, você devia ter vindo para a Copa. A Alemanha é uma festa. Lembra daqueles velhos tempos dos Encontros da SBPC? Lembra do Festival de Inverno de Ouro Preto, ou do Festival de Verão de Areia? Lembra de Woodstock? Pois é algo parecido, só que em torno do futebol, e com três jogos por dia! Os jogos são de mais-ou-menos para medianos, mas isto é o que menos importa. A grande festa está nas arquibancadas. Gente fantasiada de viking, de Mickey, de totem tribal, de odalisca, de Carlitos, de fantasma... Confraternização étnica, torcidas adversárias vibrando juntas, sem briga, sem agressões. Terminado o jogo, vencedores e vencidos vão beber juntos e cantar músicas dos Beatles em inglês estropiado. Ah, se o futebol no Brasil fosse assim! Sem pancadarias, sem torcidas organizadas, sem bombas, sem assaltos, sem gangs de batedores de carteira e de puxadores de carro... A Copa está me fazendo amar de novo o futebol!”

Grande Bronislaw. Quando li seu email, comecei a procurar o telefone de alguma empresa aérea para ver se ainda tinha passagem para Dortmund ou Hamburgo. Mas na mesma hora apareceu outro email, de outra fonte, a quem chamaremos de Lazslo Dubcek. Diz ele:

“BT, estou enojado. Uma Copa falsificada, e o mais falsificado é a torcida. A coisa mais rara aqui é você encontrar quem saiba o que é um escanteio. Não é uma Copa para torcedores, é uma Copa para turistas endinheirados, mocréias e rapazes alegres que pintam a cara, botam uma peruca em cores berrantes e vão rebolar na arquibancada, e o jogo que se dane. Arrisco-me a dizer que 70% dos que estão aqui nunca tinham sentado antes numa arquibancada de futebol. A melhor prova disso é uma das frases que mais ouvi até agora: 'Eu não sabia que futebol era tão bom! Quando voltar ao Brasil irei ao estádio todo domingo!' Coitados, não sabem o que os espera.

“Mas o pior,” prossegue Lazslo, “é você constatar que quase todos estão aqui através de um trem-da-alegria qualquer. São convidados de Bancos, de empresas multinacionais, de governos locais, de assembléias, de montadoras de carros... Vieram para a Alemanha através de algum tipo de jabá. Uns ganharam boca-livre 24 horas por dia; outros ganharam passagem e hospedagem, ou passagem só de ida (e pela Varig!), mas eu sinceramente não sei dizer quem exprime mais o Brasil de hoje, se são as gangs do Pacaembu ou os vôos-da-alegria da Alemanha.” Como eu também não sei, repasso o problema para os caros leitores.

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