Copa do Mundo é uma epocazinha danada pra morrer gente. Acho que nosso sistema imunológico fica fragilizado, pelo estresse da responsabilidade, da expectativa, da obrigação de ganhar sempre e de humilhar todos os adversários. Em 90, João Saldanha morreu em Roma, onde, mesmo com a saúde abalada, estava cobrindo a Seleção Brasileira. Em 2002, foi o romancista e cronista esportivo Roberto Drummond, algumas horas antes da nossa vitória sobre a Inglaterra. Parece que os deuses do futebol não nos cobram apenas sangue, suor e lágrimas. Exigem sacrifícios humanos em seu altar.
Agora foi Bussunda. Mas logo o Bussunda?! Pense num cara que parece que não vai morrer nunca. Eu jamais tinha parado para pensar nisso, mas provavelmente achava que quando estivesse com 100 anos de idade lá estaria Bussunda com 90, comandando um talk-show cheio de trocadilhos e irreverências. Era um hipopótamo extrovertido e gozador, e fez parte de uma das aventuras empresariais mais bem sucedidas do Rio de Janeiro recente: a criação da griffe milionária intitulada “Casseta & Planeta”.
Nos anos 1980 a turma de Bussunda, Marcelo Madureira, Hélio de la Peña, etc., tinha um jornalzinho satírico chamado Casseta Popular, que nunca cheguei a ler, mas era famoso no Posto 9 de Ipanema e adjacências. Algum tempo depois, três jornalistas saíram do Pasquim (Cláudio Paiva, Reinaldo e Hubert) e fundaram o Planeta Diário, cuja fórmula era parecidíssima com a da Casseta Popular. Começou nos bares e no Posto 9 um papo bobo sobre plágio, imitação, apropriação de idéia. Enquanto isto, o que fizeram nossos bravos humoristas? Correram às barras dos tribunais, brigando por indenizações mirabolantes, processando-se uns aos outros na tentativa de ficarem ricos? Não, apenas isto: associaram-se, uniram os dois grupos, mudaram a razão social para Casseta & Planeta e... ficaram ricos. Sábia lição de vida.
Não conheci Bussunda pessoalmente, mas acho que não foi preciso. Sou capaz de apostar que ele era daquele jeito 24 horas por dia, com a mulher, os filhos, os pais, os motoristas de táxi. Imitando Lula ou Ronaldinho, vestido de sílfide ou de metaleiro, era sempre o carro-chefe histriônico do grupo, o que se avistava primeiro. Seu humor era o humor relaxado e gozador do carioca de calçada de botequim, que tem olho de lince para a pomposidade e a empáfia alheia, e não perdoa. Gordo, meio dentuço, desajeitado, talvez não fosse o genro ideal para as mães de família brasileiras (quantos de nós somos?), mas tinha uma empatia imediata com crianças e adolescentes. Houve uma época em que fez um programa com jovens, numa TV educativa, e eu ficava matutando: Como é que ninguém se toca que um sujeito escrachado e espontâneo como esse tem mais credibilidade do que uma dúzia de professores?
Ave, Bussunda! A esta altura, já sabes quem ganhou a Copa do Mundo. Que sejas bem recebido nos braços da deusa Gréia, a padroeira da galhofa, da sátira e da diversão.
17 ANOS SEM BUSSUNDA
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